José Dirceu governa DF via Swedenberger

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Brasília
Wilson Silvestre
Secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Swedenberger Barbosa: a aposta do chefão do PT José Dirceu para suceder Agnelo Queiroz em 2014
Faltando pouco para completar dois anos à frente da gestão do Distrito Federal, o governador Agnelo Queiroz ainda não justificou os 875.612 votos que recebeu dos brasilienses para “dar maior transparência à administração pública”. Desde a sua posse, em janeiro de 2011, a austeridade e transparência anunciadas no discurso de posse continuam nebulosas em meio a uma gestão insegura e de poucos resultados. Basta uma ligeira olhada nas pesquisas para constatar o marasmo que tomou conta do Governo do Distrito Federal. A melhora nos números de aprovação – algo em torno de 15% -, só foi possível graças à “intervenção branca” orquestrada pela direção nacional do partido no início deste ano, quando Swedenberger Barbosa foi indicado para a chefia da Casa Civil, defenestrando o deputado federal Paulo Tadeu que acumulava a função como secretário de Governo.

Até aí, tudo normal numa gestão que teve ampliada o número de secretarias para abrigar a colcha de retalhos costurada com duas dezenas de siglas, muitas delas só conhecidas pelo presidente e seus familiares próximos. O que a maioria dos eleitores que votaram em Agnelo não sabe é que um dos arquitetos desta urdidura política chama-se José Dirceu.
“Ele continua sendo a sombra mais importante da corrente Construindo um Novo Brasil que, aos poucos, já dominam mais de 70% do PT”, conta um professor e militante histórico da legenda, prestes a se aposentar. Dirceu tem interesses políticos no Distrito Federal, uma unidade da federação que, mesmo não tendo densidade eleitoral, carrega um simbolismo importante para os petistas. “Desde a conquista da autonomia administrativa, o PT sempre amargou derrotas mudando o cenário a partir da vitória do professor Cristovam Buarque. Graças a ele, o PT pôde se organizar melhor, abrigando nos quadros da administração pessoas qualificadas e que viriam a formar uma nova elite burocrática”, relembra a fonte que pediu para não ser identificada.
Este projeto pode naufragar caso o governo de Agnelo não deslanche. “Dinheiro não falta, o problema é de gestão, por isso, discretamente, petistas de primeira grandeza estão preocupados com o desenrolar do processo que está no Supremo contra Agnelo”. Para a fonte ouvida pelo Jornal Opção na semana passada, José Dirceu controla o coração do governo por meio do secretário da Casa Civil, Swedenberger. Pode parecer coincidência, mas numa audiência com a presidente Dilma Rousseff, em abril, quando veio à tona os contratos da Delta no DF, Agnelo levou uma bronca dela para que não fizesse nada sem a orientação de Swedenberger. Reza a lenda que Dilma esbravejava tão alto que era possível ouvir do corredor. A partir deste episódio, Berger tornou-se o governador de fato, relegando Agnelo ao papel da Rainha da Inglaterra Elizabeth II: meramente protocolar.
Dirceu não quer correr o risco de ver o  PMDB do vice-governador Tadeu Filippelli no poder. Foi de Swedenberger a ideia de abortar o contrato da coleta de lixo feito com a Delta no DF. Este era o calcanhar de Aquiles que poderia complicar a vida de Agnelo. Ao contrário da euforia petista, Agnelo tem sobre a cabeça um pedido de processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), enviado pela Pro­curadoria Geral da República (PGR). Outro pepino para ser digerido é o caso de escutas clandestino feitas pelo Gabinete Militar de Agnelo, onde até o vice-governador Tadeu Filippelli foi bisbilhotado conforme relata Lauro Jardim, da Veja: “Há um mês, o Núcleo de Combate à Organizações Cri­minosas (NCOC) do Ministério Público de Brasília investiga casos de arapongagem que têm como pivô a Casa Militar do governador Agnelo Queiroz.
Pelas mãos de arapongas passaram extratos telefônicos de diversas autoridades do DF — incluindo aí Agnelo e seu vice, Tadeu Filippelli — da Câmara dos De­putados e do Senado. (…) Há indícios de que os arapongas tentaram desviar o foco da Casa Militar de Agnelo creditando as quebras de sigilo a blogueiros que fazem oposição ao governo local”.
De fato, José Dirceu tem muito o que se preocupar, pois mesmo mostrando normalidade na administração do DF, começam a aparecer em diversos segmentos organizados da sociedade, características comuns, tanto no campo da esquerda como nos partidos. Todos têm em comum o desencanto com o governo diante dos resultados pífios da gestão Agnelo. O conglomerado de partidos que, na teoria, dão sustentação política ao GDF começam a se movimentar na busca de respostas para os cidadãos afligidos pelas demandas em suas respectivas regiões administrativas. Nos bares da moda ou mesmo no cafezinho da Câmara Legislativa, a indagação é sobre o tempo que corre célere e até agora, pouco tem sido realizado conforme o prometido no dia da posse. Conforme lembrou o jornalista Carlos Honorato no Blog Estação da Notícia: “O chefe da Casa Civil do DF, Swedenberg Barbosa, pode começar a ser alvo do chamado ‘fogo amigo’. Segundo alguns petistas, motivos não faltam. Desde que chegou ao Palácio do Buriti, “Berger” já deixou sem função o ex-secretário de Governo Paulo Tadeu, hoje “brilhando” na Câmara dos Deputados”.
A estratégia de Diceu é colocar os deputados federais do PT Geraldo Magela e Paulo Tadeu longe da possibilidade serem candidatos ao Buriti em 2014. Esta vaga, pelo menos na cabeça de José Dirceu, está reservada ao pupilo Swedenberg Barbosa. Magela é considerado bom de luta, mas ruim de palanque eletrônico. Pesa sobre ele, na avaliação da turma de Dirceu, a falta de carisma para atrair o voto das massas. Muita gente acredita que, tanto Magela como Tadeu, dificilmente retornam ao governo. Quanto ao deputado Paulo Tadeu, eles o consideram imaturo para aglutinar as forças do PT e seus aliados. O outro problema no caminho de Swedenberg é o vice-governador Tadeu Filippelli, devidamente escanteado mas, “perigoso”. Filippelli anda com a pulga atrás da orelha em relação ao esquema de Dirceu, principalmente com a onda de boatos que atribuem ao vice, de envolvimento com a Delta. A expectativa é saber o conteúdo das provas que a Polícia Federal e o Ministério Público vão mostrar sobre os desmandos feitos pelo grupo ligado ao governador. “Esta é uma preocupação que a corrente Construindo um Novo Brasil tem em relação a Agnelo. Soma-se a isso, a compra da mansão por R$ 400 mil”, resume um petista.
Afastado estes percalços, a turma de Dirceu trabalha para que Swedenberger Barbosa vire de fato, a estrela do PT no DF. O “interventor” a cada dia recebe mais poderes como agora, ao ser de ser designado por Agnelo, gestor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no âmbito do Governo do Distrito Federal (GDF). O possível algoz de Agnelo em 2014 terá uma bolada de R$ 10,32 bilhões do Governo Federal para construir a imagem de bom gestor, como deseja Dirceu. Embora deteste ser tutelado, Agnelo não tem como evitar a influência de Dirceu em seu governo por conta dos dois casos investigados pelo Ministério Público Federal: o esquema de desvio de recursos públicos no Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, e supostos pagamentos irregulares feitos a ele, depois que deixou uma diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2010.
Jornal Opção

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