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sexta-feira, 27 de julho de 2012

  • Demora no atendimento revolta pacientes. Médicos pedem mais estrutura


    Não são apenas os pacientes que têm se preocupado com o estado crítico dos hospitais da rede pública de saúde. O Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF) visitou oito hospitais da capital e identificou uma série de problemas. O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) também tem feito levantamentos e alerta que a saúde está passando por um período dramático. Entre os usuários, as maiores reclamações são a falta de médico e a demora no atendimento. A Secretaria de Saúde garante que está resolvendo as demandas. ...

    As vistorias da entidade sindical começaram em abril. Desde então, foram visitadas as unidades de saúde da Asa Sul, Samambaia, São Sebastião, Ceilândia, Sobradinho, Taguatinga, Guará e Santa Maria. “Os médicos estão trabalhando em condições precárias e os profissionais que têm não são suficientes para atender os pacientes. Ainda é possível encontrar cadeiras, macas e vários equipamentos quebrados. Não há estrutura suficiente, falta pia para lavar mão, álcool em gel. Queremos mais eficácia, pois a situação é preocupante”, afirma o presidente do SindMédico, Gutemberg Fialho.

    A reportagem percorreu alguns hospitais para conferir a situação das unidades. Na manhã de ontem, apenas crianças estavam sendo atendidas no Hospital do Guará, pois não havia clínico geral. Quem chegava era indicado a procurar outra unidade. “Com frequência falta médico aqui, já tive que ir passando mal para o Hospital de Base. Teve uma vez que vim acompanhar minha esposa grávida e o único médico que tinha saiu com a ambulância. Os pacientes tiveram que ficar aqui esperando”, conta o engenheiro Mário Souza.

    Em Taguatinga, a situação não estava diferente. A vendedora Carina Moreira saiu do Recanto das Emas para ser atendida no HRT, mas também não conseguiu atendimento. “Estou precisando de um clínico, mas disseram que não tem. Já vim para cá, pois na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) também não tem especialista”, relata. Nem o pagamento de horas extras, que chegaram a R$ 15 mil por médico resolve o problema.

    ESPERA
    No Hospital Regional de Ceilândia, a emergência estava lotada. De acordo com o almoxarife Gilberto Gonzaga, e normal não ter médico. “Já passei mais de 12 horas esperando e fui embora. Mas hoje estou muito mal, ficarei até o fim”, comenta. Em Santa Maria, o serralheiro Dorival Pereira também não estava satisfeito. “Tem três horas que estamos esperando e não chamaram ninguém”, conta.

    A Secretaria de Saúde reconhece a carência e afirma que busca solucionar o problema com a contração de especialistas. “Os prontos-socorros atendem conforme a classificação de risco, independentemente do horário de chegada”, afirma, por meio de nota. E completa: “Nos plantões de ontem, o hospital do Guará contou com um clínico. Ceilândia tinha dois clínicos e dois ortopedistas, que estavam no centro cirúrgico para procedimento de emergência. O de Santa Maria estava com um clínico e dois pediatras no atendimento. O de Taguatinga atendeu com dois clínicos e dois pediatras e estava com 123 pacientes, quando sua capacidade é de 57”.

    Foco na superlotação


    Diante das reclamações do SindMédico-DF em relação às condições dos hospitais, a Secretaria de Saúde afirma que está trabalhando por melhorias. Segundo o subsecretário de Atenção à Saúde, Roberto Bittencourt, diversos hospitais já estão em melhores condições. “Estamos trabalhando com foco na superlotação. Primeiro, estamos atuando de forma mais forte no Hospital de Base e no de Ceilândia, e estamos indo para o de Taguatinga, pois já estamos conseguimos resultados nos outros dois. Estamos com ações mais direcionadas”, afirma.

    A última visita realizada pelo SindMédico foi ao hospital de Santa Maria, onde encontrou problemas na neonatologia. O hospital possui cinco profissionais desta especialidade, quando deveriam ser 11. E protocolou, no Conselho Regional de Medicina (CRM), um pedido de interdição ética. “Pediatras estavam substituindo os especialistas nas salas de parto, reclamaram do desvio de função, por não desenvolverem a prática em neonatologia, o que aumenta o risco de falha”, afirma o presidente do sindicato.

    Para o subsecretário da SES, há profissionais suficientes, uma vez que a sala de parto está sendo coberta por pediatras. “Pode funcionar com pediatra em sala de parto, é respaldado pelo Ministério da Saúde. O neonatologista tem que cuidar da UTI”, explica.

    CARÊNCIA

    Após visita do CRM, o secretário-geral Antônio Carvalho afirmou que a neonatologia não será interditada, mas é preciso melhorias. “Há carência de pessoal. No caso da neonatologia, tinha sete médicos, sendo dois removidos. Agora, três novos pediatras foram transferidos para cá, no entanto, eles se recusam a entrar como neonatologistas, pois não têm a especialidade. A proposta é treiná-los para a área. A interdição é a última opção”, explica. Segundo ele, a qualificação dos médicos deve começar em caráter de urgência.

    A situação da saúde no DF vai mais além. Segundo o promotor da Justiça e Defesa da Saúde (Prosus), Jairo Bisol, o MPDFT está fazendo uma avaliação da rede pública de saúde, traduzida em um relatório que deve ser apresentado em breve. “O DF não tem atenção básica, os postos estão desestruturados e isso é vergonhoso. O GDF tem recurso de R$ 600 milhões no mercado financeiro, mas não pode usar, pois esbarra na Lei de Responsabilidade Fiscal. Enquanto isso, as emergências sofrem com o deficit de 50% de pessoal. Isso tem que ser revisto, pois a responsabilidade fiscal não pode ser mais importante que a responsabilidade sanitária”, alerta.



     
    Por Kamila Farias

    Fonte: Jornal de Brasília - 27/07/2012 - 09:02

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