| foto: Cristiano Mariz |
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| João Dias, soldado da Polícia Militar |
Quando conversou com VEJA para rebater as acusações de que coordenava um
esquema de corrupção no Ministério do Esporte, Orlando Silva negou ter
cedido a qualquer pressão de João Dias, policial militar filiado ao PC do B que
participou das fraudes e agora denuncia o esquema. Mas a verdade não é
exatamente essa.
Documentos obtidos por VEJA comprovam que, em 2008, o ministério recuou
após Dias ter ameaçado delatar os desvios na pasta. Como é Policial Militar,
o integrante do PC do B estava ameaçado por uma sindicância interna da
corporação, que apurava irregularidades em convênios que entidades
ligadas a ele mantinham com o ministério.
A corporação pediu que a pasta de Orlando Silva desse detalhes sobre as
irregularidades. Mas, depois de encaminhar à Polícia Militar documentos
mostrando fraudes em convênios operados pelo soldado, a pasta
pediu à PM desconsiderasse o material enviado anteriormente. O que
aconteceu
nos três dias de intervalo entre uma data e outra? Dias foi ao ministério
pressionar para que a situação fosse revertida. Se o envolvido não tivesse
nada que pudesse comprometer a cúpula do Esporte, o mais provável é que
as ameaças fossem ignoradas. Mas o policial militar conseguiu o que queria.
No primeiro documento, elaborado com base em uma sindicância feita
em janeiro de 2008, o ministério confirma a existência de irregularidades
na Federação Brasiliense de Kung Fu e na Associação João Dias de Kung Fu,
ambas controladas pelo integrante do PC do B. A análise que as
entidades não executaram os serviços que deveriam. Por isso, o policial
deveria devolver 2 milhões de reais aos cofres públicos. As principais
irregularidades apontadas foram o uso de notas fiscais inválidas para prestar
conta dos serviços, o desenvolvimento de projetos por menos tempo do que
o acertado, a falta de apresentação de recibo do pagamento de salários
e o não-fornecimento de alimentação aos beneficiados pelos programas
esportivos desenvolvidos. O material foi enviado à Polícia Militar em 2 de abril.
| Reprodução |
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A primeira versão: ministério lista irregularidades cometidas por entidades ligadas
a João Dias. As fraudes, apontadas em janeiro, foram reportadas à Polícia Militar
no dia 2 de abril
Curiosamente, cinco dias depois, o ministério volta atrás. Pede que o ofício anterior
seja desconsiderado. O motivo alegado: “As entidades solicitaram a este
ministério, nesta data, pedido de prorrogação de prazo”. O resultado é que
João Dias continua na Polícia Militar até hoje. O episódio comprova o que diz o
militante do PC do B: com receio de que o esquema de desvios de recursos
em Organizações Não-Governamentais (ONGs) fosse delatado, o ministério se
dobrou às exigências feitas pelo soldado.
| Reprodução |
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Segundo ofício: encaminhado cinco dias depois do primeiro documento, o texto pede
que a Polícia Militar desconsidere as acusações. A pressão havia funcionado
O recuo do ministério comprova como a pressão de Dias funcionou. E só funcionou
porque a pasta temia o potencial explosivo das revelações que o militante do
PC do B poderia fazer.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, o ministro Orlando Silva foi abordado
sobre o assunto. Ele disse que não houve "mudança, flexibilização ou recuo
do ministério" nesse episódio. "Não podemos responder por processos
administrativos", afirmou.
Por Gabriel Castro
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