Esporte aponta desvio de R$ 17 milhões em relatório

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ministério leva anos para cobrar ONGs que acusa de desviar recursos


Relatório apresentado pelo Ministério do Esporte em julho aponta desvios 
de R$ 17 milhões em convênios que a pasta assinou com 
organizações não governamentais sediadas em Brasília e em seus arredores.



Encaminhado em resposta a um pedido de informações de um deputado 
do Distrito Federal, o documento descreve 15 projetos em que os recursos 
repassados pelo governo teriam sido desviados de sua finalidade.

Embora as irregularidades tenham sido detectadas pelo próprio governo, 
o relatório mostra que em muitos dos casos o ministério demora para agir, 
levando anos para cobrar as entidades em que encontra problemas.

Segundo o ministério, as ONGs apontadas no relatório não prestaram contas 
do dinheiro que receberam, usaram notas fiscais frias para comprovar 
gastos e atenderam menos crianças do que o previsto em seus contratos.

Os projetos receberam recursos do programa Segundo Tempo, que repassa 
dinheiro público a ONGs, prefeituras e governos estaduais para incentivar a 
prática de atividades esportivas em comunidades carentes.

O programa está no centro da crise enfrentada pelo ministro do Esporte, 
Orlando Silva, desde a semana passada, quando foi acusado de usar os convênios para desviar recursos públicos para os cofres do seu partido, o PC do B. Ele nega as acusações.

O policial militar João Dias Ferreira, dono de duas ONGs citadas no 
relatório do ministério, disse 5 Polícia Federal na semana passada que só passou a sofrer cobranças depois que se recusou a pagar propinas para o partido.

Em entrevista à Folha, o pastor David Castro, fundador de uma igreja 
que recebeu dinheiro do Segundo Tempo e também aparece no relatório, 
disse que emissários do ministério cobravam 10% de propina para os cofres do
 PC do B.

O levantamento feito pelo ministério foi entregue após um requerimento do 
deputado federal Izalci Lucas (PR- DF), aliado do ex-governador 
Joaquim Roriz e adversário do atual governador, Agnelo Queiroz (PT), que foi 
ministro antes de Orlando Silva.

A CGU (Controladoria-Geral da União) apontou nos últimos anos irregularidades 
em 67 convênios do ministério com ONGs, prefeituras e governos estaduais e 
cobra a devolução de RS 26,5 milhões repassados a essas entidades.

Segundo o ministério, três ONGs apontadas no relatório não apresentaram 
prestações de contas, mais de três anos após receberem os recursos.

Uma dessas entidades é a 100 Dimensão Cooperativa, que recebeu RS 331 
mil para oferecer atividades esportivas a mil crianças encerrou seu trabalho em 2006.

Sônia Maria da Silva, dirigente da ONG, diz que a prestação não foi feita por 
causa de problemas na documentação. "As atividades aconteceram, eu levo 
você na padaria onde teve o lanche." Hoje a ONG trabalha com reciclagem de lixo.

Outra entidade apontada no relatório, a Liga de Futebol Society teve as 
contas parcialmente aprovadas. Segundo Ferreira, ela faz parte do esquema de 
desvão de verbas.

A liga tem como sede um apartamento em Sobradinho, nos arredores de Brasília. 
A Folha visitou o local, e o porteiro disse que uma moradora recebe as 
correspondências da ONG, mas ela não foi localizada pela reportagem.


Por Rubens Valente, Dimmi Amora, Renato Machado e Andreza Matais



Fonte: Jornal Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário