Policial é transferido após apreender van do governo

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Policial é transferido após apreender van do governo  
Foto: André Gustavo Stumpf Filho e Thyago Arruda/247 (10.11.2011)

Sargento foi realocado de batalhão por autuar uma van da Seops que estava com documento vencido e sem a placa da frente; passageiros eram fiscais que retiravam faixas do movimento grevista da corporação, fixadas em área pública

Informações Natalia Emerich _Brasília247 – O indicativo de greve dos militares do Distrito Federal parece ter exaltado o ânimo entre policiais e representantes do governo. Um sargento da Polícia Militar foi transferido de batalhão por apreender uma viatura da Secretaria de Estado da Ordem Pública e Social (Seops), que estava em situação irregular.
O episódio aconteceu na quinta-feira (16), no Setor Industrial do Gama. O 1º sargento Lindemberg Diogo fazia ronda na região em que atuava quando se deparou com fiscais da Seops retirando uma faixa, fixada ilegalmente, que pedia apoio à operação tartaruga. O militar tentou intervir na ação, mas os agentes do governo, segundo ele, afirmaram que cumpriam uma determinação.
Poucos minutos depois da fiscalização, garantiu o policial, os agentes deixavam o local. Mais à frente, acabaram abordados por Diogo, que decidiu também cumprir seu papel e fiscalizar o veículo dos agentes. Diogo pediu os documentos do veículo, de uso público, e ficou surpreso: “A van estava com o IPVA de 2011 vencido, pneus carecas, sem a placa da frente e, além disso, ninguém usava o cinto de segurança”, disse Diogo.
A assessoria de imprensa da Seops confirmou que o veículo foi retido, pois estava com uma pendência referente ao Licenciamento de 2011. Mas negou as demais acusações. Em nota enviada ao Brasília247, o órgão negou que os pneus estivessem carecas e justificou que “a placa dianteira havia caído durante a fiscalização e que a situação só foi percebida quando houve a abordagem da polícia”.
A mesma explicação dada ao Brasília247 foi dada ao sargento, que não desistiu de notificar o veículo e encaminhá-lo ao depósito do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) no Gama. “Tenho autoridade para apreender veículos irregulares, constatei erros e agi conforme a lei”, justificou Diogo. Na versão da Seops, houve revanchismo por parte do policial. “Ele só autuou quando percebeu a retirada das faixas colocadas pelos policiais”, diz a nota.
Apesar das inúmeras infrações, o veículo apreendido foi resgatado em menos de 12 horas. A assessoria de imprensa do Detran informou que o carro foi retirado do depósito no mesmo dia, após pagamento de multa. No entanto, a assessoria não quis informar o valor desembolsado pelo governo e informou que cabe à Seops divulgar ou não a quantia paga.
Também em menos de 12 horas, foi a movimentação para realocar Diogo em outro batalhão após o episódio. No dia seguinte à autuação, durante a sua folga, ele recebeu uma ligação inesperada do 9º Batalhão da Polícia Militar (9º BPM), que fica atrás do Palácio do Buriti, na qual informaram sobre a transferência. “Disseram que não tinham boas notícias e que até as 17h de segunda-feira (20) eu deveria me apresentar no 3º BPM (Gama)”, conta o sargento.
Para Diogo, a mudança súbita de batalhão tem motivo: retaliação por ter autuado um carro do governo. “Considero que fui punido e castigado por agir corretamente, agora quero que alguém me responda se agi errado ou me indisciplinei”, desabafa. “Vou chegar ao próximo local de trabalho e vou continuar punindo o que estiver errado, inclusive carros públicos, vão me transferir para onde?”
“O mais estranho é que nesse período do ano, ainda que queiram, não fazem remanejamentos porque é a época dos balanços feitos nos batalhões”, argumenta Diogo. Ele antecipou que irá até o Ministério Público para saber como proceder em relação ao incidente.
A Seops afirma que não influenciou no remanejamento do policial. A assessoria do órgão enfatizou que a transferência se deu por decisão administrativa tomada pelo Comando da PM. A assessoria de imprensa da Polícia Militar foi procurada, mas não esclareceu os motivos da transferência do sargento. O órgão informou que não há expediente nesta quarta-feira (22), devido ao carnaval.
Faixas ilegais - A situação que gerou o incidente no Gama é corriqueira em todo o Distrito Federal. Embora a Lei n.º 3036/2002 regulamentada pelo Decreto nº. 29.413/08 proíba a instalação de faixas e placas pelas ruas, até 15 de fevereiro de 2012 cerca de 7 mil unidades foram apreendidas e 18 multas foram emitidas. Em 2011, o número de autuações foi superior a 43 mil.
A fiscalização, segundo a Seops, é feita semanalmente. O trabalho é uma parceria entre a secretaria, que retira as unidades irregulares, e a Agência de Fiscalização (Agefis), responsável por multar. De acordo com a assessoria do órgão, qualquer pessoa tem o direito de retirar faixas ou placas instaladas ilegalmente em áreas públicas.
Greve - Parte dos militares do Distrito Federal reduziu o ritmo das atividades depois de decretarem estado de greve, em assembleia realizada na noite de quarta-feira (15), às vésperas do carnaval. Com a decisão, as viaturas passaram a operar na velocidade de via e o atendimento às ocorrências ficou condicionado à presença de policiais civis.
A categoria reivindica melhorias salariais e exige que o governo pague à PM o mesmo que é pago à Polícia Civil. No dia 2 de março, policiais e bombeiros se reunirão novamente na Praça do Buriti, às 9h, para decidir se haverá ou não paralisação geral.

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