Entrevista | Demóstenes Lázaro Xavier Torres
“O Brasil do PT é um país ‘megalonanico’ ”
Após abrir mão de disputar a Prefeitura de Goiânia, senador se diz disposto a subir no palanque e trabalhar firme para eleger o candidato da base aliada, critica o PT sem piedade e diz que seu partido, o DEM, precisa passar a ocupar o posto de protagonista de processos eleitorais
Na semana em que anunciou oficialmente sua desistência à cadeira principal do Paço, Demóstenes Torres recebeu o Jornal Op ção em seu gabinete no Senado Federal. Mostrou, em seu próprio discurso, que fizera a tomada de decisão de ficar fora do pleito municipal com certa frustração — o que pode se depreender na quantidade de projetos que expôs, em sequência, para cada um dos diversos setores da administração que tentaria disputar. Por outro lado, mostrou a verve aguerrida de sempre: questionou, além do quadro em que se encontra a cidade — embora preservasse, de certa forma, a figura do prefeito Paulo Garcia em suas críticas —, também as atitudes do governo federal em âmbito interno e externo. “Em termos de conduta internacional, o Brasil hoje é um ‘megalonanico’, como diz Reinaldo Azevedo (colunista da “Veja”)”, afirma.
Sobram ressalvas também para a Casa que ele habita há nove anos e na qual cursa o segundo ano de seu segundo mandato. O goiano que virou referência da oposição, vale ressaltar, não se mostrou muito animado com o futuro de sua ala: disse que a qualidade caiu e que hoje estão praticamente de mãos atadas por causa da grande maioria governista. E deixa transparecer um dado importante em termos de corrida presidencial: não vê uma boa atuação no Senado, até o momento, daquele que seria o candidato mais natural da oposição ao governo Dilma, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG), o que ele ressalta em leves alfinetadas. O cenário abre brecha, segundo Demóstenes, para que Marconi possa ser cogitado como candidato do partido, o que abriria a perspectiva, no caso, de suceder ao governador do Estado na disputa do Palácio das Esmeraldas.
Mas o senador democrata sabe que, se tem um goiano com chance considerável de vir a ser candidato a presidente da República é ele próprio, pelo DEM. Com um sorriso seguido de um “quem me dera”, ele diz que não fugiria do embate. Mas, como bom político que aprendeu a ser, diz que é muito cedo ainda para pensar nisso.
Elder Dias — Como foram os dias anteriores à decisão de não sair candidato a prefeito de Goiânia?
Tenho 51 anos de idade e cheguei a Goiânia com 3. Portanto, são 48 anos na cidade em que eu cresci e na qual fui procurador-geral de Justiça e secretário de Se gurança Pública. Conheço Goiânia a fundo, estudei muito sobre a capital e tenho projetos que considero excelentes para ela. Mas o fato é que muita gente vinha pedindo para que eu não candidatasse, principalmente dentro da cúpula nacional do DEM. Houve uma reunião nacional, com todos os líderes, na qual disseram que, se eu saísse, enfraqueceria a representação nacional do partido. Como eu sou uma referência do Democratas no Senado e tenho experiência parlamentar, isso ajudaria muito a sigla nacionalmente. Outro pedido veio dos prefeitos do interior do Estado, que estavam te merosos de eu deixar o Con gresso e eles, com isso, perderem o acesso a emendas e outros benefícios orçamentários. Então, havia muita gente me cobrando para que eu não saísse candidato em Goiânia neste momento, uma vez que acabei de me reeleger senador. O governador Marconi Perillo queria muito que eu fosse candidato, mas, ao mesmo tempo, achava que, por eu ter uma boa participação em prol do Estado aqui em Brasília, ajudando em várias questões, como a da Celg, eu seria im portante também no Con gresso. Fiquei nesse impasse, mas, por fim, houve quase uma blitz para que eu permanecesse no Senado e eu tive de ceder, procrastinando por um tempo esse so nho de ser candidato a prefeito de Goiânia.
Elder Dias — O fato de o sr. ter sido eleito em 2010 para um novo mandato, que agora começa apenas o segundo de oito anos, também influenciou nessa decisão?
Também, já que muitos prefeitos cobraram isso de mim, queriam que eu ficasse no mínimo quatro anos. Muitos depositaram sua esperança em projetos, benefícios e verbas orçamentárias que eu viabilizaria. Enfim, havia essa cobrança grande. Pesando tudo, decidi não sair neste momento.
Cezar Santos — Natu ral men te, o sr. vai apoiar o nome que a base aliada ao governo escolher. Já tem algum nome que reuniria as melhores condições para vencer o pleito, que vai ser difícil?
Temos bons nomes na oposição. Vai ser um bom pleito e acho que temos gran des chances de vencê-lo, seja pelo modo de administrar do PSDB, do DEM e de toda a base aliada, seja pelos problemas que vem atravessando o prefeito e que não serão esquecidos durante a campanha — embora eu particularmente torça para ele sair limpo de tudo isso. Mas, enfim, temos bons candidatos: Jovair Arantes (PTB), Leonardo Vilela (PSDB), Fá bio Sousa (PSDB), Armando Vergílio (PSD), João Campos (PSDB), Francisco Júnior (PSD). São candidatos que têm um potencial muito grande. Já sobre José Eliton (DEM), francamente creio que ele não deverá sair candidato. Conversamos sobre isso e ele prefere ficar na vice-governadoria. Penso que brevemente ele vá se tornar secretário de Marconi, que sempre gosta de prestigiar seus vices. Logo, em um balanço geral, vejo que temos nomes extraordinários para apresentar à população e fazermos uma boa disputa.
Cezar Santos — O sr. vinha estudando Goiânia, a fim de apresentar um projeto exequível para a cidade como candidato. Quais os problemas preponderantes que existem na atual administração?
Até para não ser oportunista, não quero fazer críticas. Mas vejo que Goiânia tem se tornado uma cidade encardida de novo, feia. Recentemente o “Fantás tico” fez uma matéria em que destacou o fato de Goiânia ter mais de 10 mil buracos. Um destaque muito negativo para a cidade. Já temos também cracolândias, o que é muito sério. Negli gencia-se um papel fundamental em relação à segurança pública, que é a Guarda Municipal armada, uma instituição que precisa ser usada a favor da resolução dos pro blemas de segurança da ca pital. Acabou aquela conversa petista de que a criminalidade teria causas meramente sociais. Isso foi derrubado, porque nos últimos anos, o Brasil só vem reduzindo a desigualdade social e, ao contrário do que eles previam, o crime só fez ampliar seu raio de ação sobre a so ciedade. Esse será um bom tema. Eu apostaria muito também na despoluição do Rio Meia Ponte. Há como fazer isso, e rapidamente. Na questão do transporte coletivo, além do VLT — que é um projeto da União que vai ser executado com a participação do Estado. O município precisa entrar nessa discussão. Eu já tinha conversado também com alguns urbanistas importantes no sentido de buscar um projeto para redesenhar o trânsito de Goiânia, criando saídas baratas, com trincheiras e viadutos, nada faraônico, algo para o dia a dia mesmo. Também tinha pensando em como fazer uma iluminação pública diferenciada, mais barata e eficiente. Outro aspecto seria uma reciclagem industrial do lixo, como existe em países desenvolvidos. Na área de educação, eu pretendia buscar a parceria da iniciativa privada, para que ela pudesse subsidiar as escolas. Então, para uma empresa que se instalasse por aqui, eu daria incentivos fiscais e faria obras para que elas participassem ativamente da vida dessas escolas, adotando-as. Elas ajudariam no gerenciamento da escola e contribuiriam para o aumento inclusive do salário dos professores, dando prêmios. Eu colocaria, com certeza, um ou dois guardas municipais na porta das escolas para afastar o perigo do tráfico de drogas e dar tranquilidade para os professores trabalharem e os pais e alunos também se deslocarem com segurança. Na área de saúde, eu tinha feito já um grupo muito grande para estudar o quadro municipal de forma a otimizar o processo e fazer com que o corpo clínico trabalhasse da melhor maneira, pensando como as pessoas poderiam ser atendidas na própria casa em ocorrências de menor gravidade. Tam bém pensei bastante sobre como reduzir a roubalheira no sistema de compras, na questão do desvio de medicamentos e na melhoria do modo de se fazer as licitações. Sobre o centro histórico de Goiâ nia, eu gostaria de transformar aquele local em uma área de lazer importante novamente, para voltar a ser uma área de comércio e diversão ali naquele espaço. É bom lembrar que a cidade tem um dos mais ricos acervos de art déco do mundo e que hoje está totalmente esquecido. Tudo isso sempre com gente de referência nacional envolvida nos projetos, com dicas importantes para melhor o padrão da capital em termos de Brasil. Enfim, eu tinha preparado um projeto para transformar Goiânia na principal cidade do Brasil, não em termos de gigantismo, mas em termos de inovações.
Cezar Santos — Esse pré-estudo vai estar à disposição do candidato da base aliada, naturalmente…
Primeiramente, vou trabalhar para tentar fazer com que tenhamos um candidato único. Assim como deseja o governador Mar coni. Todos devem se lançar a gora, mas lá na frente devemos a funilar, porque é mais importante e benéfico estarmos juntos do que isolados. Se esse candidato escolhido quiser, tenho esses es tudos e, claro vou repassar, caso ele queira. Mas cada um tem seu ideal, sua compreensão, sua visão de mundo. Eu não posso esperar que alguém tenha sequer 20%, 30%, 40% com o meu jeito de ver as coisas, ainda mais uma totalidade. Mas, no que precisarem de mim, quem quiser terá minha colaboração, seja por meio de projetos, seja no corpo a corpo. E tenho convicção, de verdade, de que faremos o novo prefeito de Goiânia.
Cezar Santos — O sr. vai estar firme, no palanque, com esse candidato?
Vou estar no palanque, andando, caminhando, ajudando, enfim, sendo leal em tudo a esse candidato escolhido.
Cezar Santos — Em termos de política nacional, o PT fez agora a privatização — embora neguem o termo e falem em concessão — de três aeroportos. Caiu o mito da demonização que o PT fazia sobre esse tema?
O PT jogou pedra na santa, chutou a santa, a verdade é essa. O PT tinha um discurso contra as privatizações, o qual aliás foi encampado pelo PSDB, que se omitiu em defendê-las. As privatizações foram um grande legado para o Brasil e venho dizendo isso em todos os lugares em que posso falar. O PT optou por uma maneira de privatizar e isso, eu ressalto, é importante, porque o Estado não tem dinheiro para fazer investimento. Mas, no caso do PT, a opção foi péssima, pior do que a da época tucana, porque deixou 49% na mão da própria Infraero e captou recursos fazendo uma concessão por grande tempo. Só que esses recursos serão 80% financiados pelo BNDES. Isso significa uma espécie de estatização, que deixa a Infraero em uma situação muito incômoda, que é a de vender, mas, ao mesmo tempo, ter de pagar para fazer o investimento. Acredito piamente que esse modelo deva se expandir. Um exemplo é a área de água e esgoto, este principalmente. A universalização do acesso ao esgoto, pelo ritmo atual, está prevista para ser concluída em 150 anos. Como vamos ficar em uma situação como essa? Para quem vai receber o benefício não interessa saber para quem ele vai pagar, não interessa se é o Estado ou é particular, desde que o Estado regule o preço e este seja um preço decente. Isso vale também para a área de rodovias e portos. Falo sempre que o Brasil é um país rico, a 6ª ou a 7ª economia do mundo. Só que a permanência, a queda ou a ascensão nesse ranking depende de nossas escolhas. Podemos subir ou, daqui a 30 anos, cair para o 30º ou o 40º lugar. Qual é a opção brasileira por educação ou por infraestrutura? Nossa infraestrutura é uma piada perto da infraestrutura americana ou da europeia. Onde estão as nossas linhas de trem de ferro? Cadê nossas estradas duplicadas? Então temos de acabar com essa demagogia: o Estado tem de cuidar das áreas essenciais e a iniciativa privada tem de ser chamada a participar do desenvolvimento. Mas, digo, a iniciativa privada correndo seus riscos e não essa iniciativa que recebe dinheiro do BNDES para fazer investimentos, porque aí, no fim de tudo, é dinheiro público também.
Elder Dias — No último pleito presidencial, ficou claro que o PSDB se recusou a ser a direita do processo. O partido se omitiu de falar de privatização e de outras bandeiras alternativas ao discurso do PT. O sr. acha que está faltando identidade ao PSDB e que, de certo modo, isso também tem afetado o DEM?
O PSDB é um partido com linha ideológica mais identificada com o PT do que com o DEM. O PT não se transformou em um partido socialista e acabou mi gran do para a social de mocracia. E o PSDB é um partido social democrata. São, ambos, muito parecidos, com ideias praticamente iguais e temerosos de tomar decisões mais contundentes. O DEM é, efetivamente, um partido liberal. Só que nossa sigla também passou por uma crise de identidade, com essa história de ter de ficar longe do governo e, ao mesmo tempo, alguns membros quererem participar. Vários parlamentares fizeram acordo com o Planalto e, agora, muitos acabaram migrando explicitamente, por meio do PSD. Temos de ver que são 44 milhões de votos na oposição. O PT nem na fase mais áurea da economia, nem com Lula, conseguiu ganhar as eleições no primeiro turno. Para o DEM honrar esse voto do eleitor, então, é preciso de fender abertamente o liberalismo, defender abertamente o mercado, defender o mérito, acabar com essa história de ampliação dos programas sociais. Quem hoje tem uma bolsa quer um emprego; e quem tem um emprego quer prosperar, quer fazer um investimento. Ou seja, o governo deve investir em pequenas empresas, no mérito, no trabalho, na prosperidade, na qualificação, no estudo, na escola em tempo integral. Não adianta nada o governo criar cotas raciais. Isso vai melhorar o País em quê? Além do mais, é uma medida discriminatória, porque diferencia o pobre. Quem precisa ser incentivado no Brasil é o pobre, independentemente de sua cor, se é branco, amarelo ou negro. Isso tanto faz. O que temos é de incentivar todos. Criar cota racial pra quê? Para atender ao filho do Ney mar? (enfático)
DEM precisa ser protagonista das eleições”
Elder Dias — Em relação a essas polêmicas, temos no governo uma ministra, Eleonora Menicucci [Secretaria de Política para Mulheres], que se colocava abertamente a favor da descriminalização do aborto antes de entrar no governo. O que o sr. pensa a respeito?
O pior é que essa ministra agora diz que sua posição é a que o governo tiver. Precisamos acabar com a mentira. Por que dar uma entrevista e depois voltar atrás? Essa ministra que está aí já fez até curso de aborto na Colômbia, onde a prática também é proibida, e explicava a mulheres como fazer um autoaborto por sucção. Tiraram uma declaração dela em um site da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre isso, depois de seis anos. É um constrangimento desnecessário. Se a pessoa tem uma posição, que a assuma. (enfático) Eu sou a favor do casamento entre homem e mulher, sou contra o aborto e creio em Deus. Se isso é defeito ou é qualidade, independentemente disso, é o que eu sou. Então, por que se têm outra opinião, se assumam, não importando como a opinião pública vai lidar, tem de assumir. Porque, no fim, as pessoas vão acabar tratando tudo de uma forma leviana. Em meu caso específico, o que eu deploro é a mentira. Essa ministra é mentirosa, uma vez que ela dava curso de aborto e agora chega e rasga tudo o que disse. As pessoas no Brasil, e os políticos especialmente, têm de aprender a externar seu pensamento. Fora disso, é ilusão. Essa ministra, pelo que vi de sua conversa e de sua qualidade intelectual, não tem condição de limpar as paredes do ministério. Mas, enfim, foi escolhida pela presidente e a gente respeita. Critica, mas respeita. O que não aceito é a prática da mentira.
Cezar Santos — O sr. disse há pouco algo sobre uma crise por que o DEM passou. Mas o DEM não continua em crise, senador? Não corre o risco de se fundir a outra sigla ou até mesmo de se extinguir?
Nós já tivemos a oportunidade de criar um novo partido por meio de uma fusão e não fizemos. Isso é um discurso, uma forma de deixar o DEM em crise permanente, nada mais do que isso. Vamos disputar os governos dos Estados e a presidência da República e, agora, as prefeituras. A crise do DEM passou com a criação do PSD. O resto é balela.
Elder Dias — A relação umbilical do DEM com o PSDB, um partido social democrata, durante tanto tempo não deixou o partido sem identidade própria e enfraquecido ideologicamente?
Claro, obviamente. Enfraqueceu de todas as formas. O DEM orbitou em torno do PSDB. Era um partido satélite. Ora, um partido satélite não chega a lugar algum. A lua jamais chegará a ser planeta. O DEM, se quiser disputar bem as eleições, tem de começar a ser protagonista delas. À medida que fica como um partido agregado, não vai chegar longe. É claro que nossas alianças preferenciais são com o PSDB, nosso parceiro de longa data, mas apenas isso, um parceiro. O que o DEM precisa fazer é lançar candidatos, inclusive a presidente da República.
Elder Dias — E esse candidato é o sr.?
Quem me dera! (risos) O DEM vai decidir isso em 2013. É claro que meu nome é cogitado e eu não fujo da raia. Se me chamarem, vou para o combate e o debate. Mas temos outros grandes nomes dentro do partido.
Cezar Santos — Em 2014 também tem eleição para governador. O sr. também tem projeto em relação ao governo de Goiás?
Claro. Já fui candidato a governador e tenho a pretensão de administrar meu Estado. Mas meu candidato é Marconi Perillo. É bom lembrar que Marconi pode, sim, ser candidato a presidente da República, o que pode acontecer: José Serra, para mim, é carta fora do baralho e Aécio Neves ainda não se firmou. O próprio PSDB cogita Beto Richa [governador do Paraná] e Marconi Perillo. Se Marconi for candidato a presidente ou, por outro motivo qualquer, não for candidato ao governo, meu nome está à disposição.
Elder Dias — Para o sr., então, o PSDB também está em crise de identidade?
Sim, muito pela questão da omissão. O PSDB tem um potencial novo candidato (Aécio Neves) aqui no Senado, mas ele tem pouca rotina no Congresso. E aqui é preciso estudar, trabalhar, é preciso gostar disso aqui. Quando o Mão Santa [ex-senador pelo DEM-PI] estava por aqui, eu dizia que para ser senador era preciso aguentar os discursos dele por três ou quatro horas seguidas. É preciso saber que o Legislativo é diferente do Executivo. Aqui não temos nada para dar de graça para ninguém. Aqui é preciso lutar, têm discursos, projetos, conseguimos mudar leis etc., mas é bem diferente: não é como no Executivo, que tem a caneta na mão, que pode escolher a quem beneficiar, qual cidade, qual prefeito que gosta mais. São coisas completamente diferentes. Acho que o Aécio ainda está pegando esse ritmo. Tomara que emplaque. Mas, se não emplacar, o nome de Marconi é um nome a ser considerado para ser o candidato a presidente da República.
Elder Dias — Em relação a esse papel da Casa, que comparação o sr. faz do Senado quando o sr. assumiu o primeiro mandato e agora, nesta sua segunda legislatura? Há diferenças?
Hoje o Senado está muito mais enfraquecido, por uma série de razões. Uma delas é que o presidente do Senado [José Sarney, PMDB-AP] não tem coragem de devolver medidas provisórias (MPs). Com isso, a Câmara dos Deputados não aprova nada que possa fazer com que o Senado tenha um papel preponderante na discussão dessas MPs. Elas são, por seu turno, a principal forma de produção legislativa, hoje. Então, o Senado tem um papel de segunda linha. A Câmara se transformou em um poder mais importante do que o próprio Senado. Outro fator é que temos hoje aqui uma maioria governista expressiva e muita gente absurdamente despreparada, com um viés apenas de assistencialismo, primário. Dá vontade de desistir ao ouvir certos discursos, que parecem coisa de grêmio estudantil. Hoje, a oposição não tem força para instalar uma CPI que seja, ou para convocar um ministro. Precisamos de 27 assinaturas e desde o ano passado só tenho 22 para iniciar uma investigação sobre o BNDES. Claro que em um momento de descontentamento eu posso até pegar essas assinaturas que faltam, mas no passado chegávamos a ter 35 ou até 40 votos, muitas vezes derrubávamos a proposta do governo. Hoje, fazer oposição está mais difícil, em termos numéricos. Ao mesmo tempo, é prazeroso fazer esse enfrentamento quase que cotidianamente. O que precisamos é de gente na oposição disposta a fazer oposição. Porque, se quisermos parecer com o governo, seremos cópia. E entre cópia e original, o povo vota no original, nunca na cópia.
Cezar Santos — O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ganhou um duelo importante no Supremo Tribunal Federal (STF). Como o sr. viu essa vitória?
Eu apresentei uma proposta de emenda constitucional (PEC) que, creio, ajudou o CNJ a manter suas atribuições e deixava claro que o conselho tinha poder de atuar originariamente e não subsidiariamente, tendo de passar primeiro pelas corregedorias locais dos tribunais de Justiça. Esse foi um embate vencedor, em que tivemos o apoio da sociedade. A ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon [corregedora nacional do CNJ] se sobressaiu. Tive a oportunidade de participar de um debate com ela e o presidente da Associação Paulista de Magistrados de São Paulo [Roque Mesquita], pela “Folha de S. Paulo”. Foi um belo debate. Enfim, na decisão do STF houve vários votos — uns contrariados, outros menos — que citaram meu nome. Fico feliz com isso, acho que estou representando bem meu Estado. Nessas questões jurídicas, então, sou frequentemente chamado a participar. Na questão do CNJ, acho que ajudei o Brasil.
Cezar Santos — A ministra Eliana Calmon se diz preocupada com o fato de o CNJ ter tido suas prerrogativas fortalecidas apenas pela diferença de um voto…
Temos nossa PEC aí e, por meio dela, vamos votar e deixar claro: onde está escrito “receber e conhecer” vamos mudar para “processar e julgar”, porque assim fica tudo mais claro, qualquer que seja a composição do STF.
Cezar Santos — Como o sr. avaliou esse movimento das polícias? O Estado da Bahia ficou refém de grevistas armados e o número de homicídios cresceu, inclusive com indícios de participação de PMs.
Isso se chama banditismo. Greve armada é inaceitável. Sou um homem que sempre defendeu a polícia, o tempo todo. Mas nesse caso, não, porque é chantagem: como se negocia com alguém armado? O policial militar não tem direito a greve, mas tem direito a aumentar seu salário. Estou aqui para ajudá-los nessa questão nacional, ainda que seja com a criação de um fundo, para que a União ajude a complementar os vencimentos deles nos Estados. O salário dos PMs é inaceitável, fraco, aviltante, mas não pode ensejar esse tipo de atitude, porque assim se perde o apoio da sociedade e o policial passa a ser confundido com o bandido. Em escutas, percebeu-se que eles estavam, inclusive, tramando prática de crimes. Minha concepção é que policial tem de estar de um lado e bandido, do outro. Quando o policial começa a parecer com bandido, perde o apoio da sociedade e o meu também. Sou um apoio importante para a classe aqui, tudo o que vem contra a polícia aqui eu ajudo a derrubar, seja qual for a polícia. É uma instituição que lida com o esgoto da sociedade, com aquilo que ninguém quer mexer. Agora, a polícia tem a arma porque a sociedade dá essa arma a ela para enfrentar os bandidos em nosso nome e muitas vezes o uso da força é necessário. Só que polícia agir mascarada, matando, assaltando, queimando carros, enfim, agindo como bandidos, jamais é aceitável, não é polícia.
Cezar Santos — A votação da PEC 300 [que estabelece a obrigatoriedade de um piso nacional para bombeiros e policiais militares] nos termos em que ela se encontra é exequível?
Provavelmente não, porque não dá para obrigar o Amazonas a pagar como São Paulo. Mas, de qualquer forma, é uma boa fonte de pressão. A União, porém, pode complementar esse valor. Acho que, se houver esse fundo, de imediato muitos Estados vão ter salários multiplicados. Isso já é de grande valia e, por isso, está na hora de essa medida ser tomada.
Elder Dias — Sobre outra greve, a do setor da educação em Goiás, como o sr. se posiciona em relação ao salário dos professores e à disputa entre meritocracia e titularidade?
Confesso que estou um tanto afastado dessa questão. É, entretanto, algo grave e sempre bombástico. A questão salarial precisa de nosso apoio, mas também não pode ser vista sob um prisma sindical. Acredito que o governador do Estado e o secretário da Educação estão dando esse primeiro passo para virem com outro logo depois e recompensar eventuais perdas. Acho que os sindicatos deveriam dar um crédito de confiança ao governar até que se possa resolver definitivamente o problema.
Elder Dias — Como o sr. vê as alianças do Brasil com outros países visados internacionalmente, como Cuba, Venezuela e Irã, diante da geopolítica mundial?
A presidente Dilma Rousseff cortou, exatamente no momento em que estamos nesta entrevista, R$ 55 bilhões do Orçamento. Ao mesmo tempo, ela tem um projeto para ampliar em quase 1,5 mil vagas o número de diplomatas e de pessoal administrativo no Itamaraty. Ou seja, ela está expandindo desnecessariamente uma rede para todos os países. O ideal seria que o Brasil pudesse se relacionar com todo o mundo, mas é preciso se relacionar com os principais países. Participo todo ano da Assembleia Geral da ONU, como observador do Senado, e digo com toda a franqueza: o Brasil tem a aspiração de participar do Conselho de Segurança como membro permanente, mas a chance é zero. Isso porque há essa demagogia na política externa, ao longo dos anos. Nenhum país do mundo admite o que fez a presidente semanas atrás em Cuba, o que aliás já tinha sido feito pelo ex-presidente Lula, no episódio dos boxeadores cubanos, em que ele mandou os atletas imediatamente para o país. Há uma relação promíscua com Cuba. Estive lá: é um país absolutamente decadente, doido para ser capitalista, com um índice de prostituição elevadíssimo e deficientes físicos pedindo esmola nas ruas, com poder aquisitivo zero. Criaram a ilusão de que Cuba seria um grande país, um país resistente. Não se deram conta de que o Brasil hoje poderia ter influência sobre todo o mundo. Ao invés disso, cortejamos Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e outros bolivarianos. Outro erro é o apoio à política externa do Irã. Agora, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quer saber qual é a real posição da presidente Dilma em relação ao país. Poderíamos ter, no mundo, uma influência muito grande, mas partimos para ser um líder de nanicos. Um colunista da “Veja”, Reinaldo Azevedo, chama o Brasil de hoje de “megalonanico”, um país sem musculatura. Exceto com as nações periféricas, não temos respeitabilidade alguma em política externa. Mas o tempo caminha e vamos ver no que vai dar tudo isso.
Sobram ressalvas também para a Casa que ele habita há nove anos e na qual cursa o segundo ano de seu segundo mandato. O goiano que virou referência da oposição, vale ressaltar, não se mostrou muito animado com o futuro de sua ala: disse que a qualidade caiu e que hoje estão praticamente de mãos atadas por causa da grande maioria governista. E deixa transparecer um dado importante em termos de corrida presidencial: não vê uma boa atuação no Senado, até o momento, daquele que seria o candidato mais natural da oposição ao governo Dilma, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG), o que ele ressalta em leves alfinetadas. O cenário abre brecha, segundo Demóstenes, para que Marconi possa ser cogitado como candidato do partido, o que abriria a perspectiva, no caso, de suceder ao governador do Estado na disputa do Palácio das Esmeraldas.
Mas o senador democrata sabe que, se tem um goiano com chance considerável de vir a ser candidato a presidente da República é ele próprio, pelo DEM. Com um sorriso seguido de um “quem me dera”, ele diz que não fugiria do embate. Mas, como bom político que aprendeu a ser, diz que é muito cedo ainda para pensar nisso.
Elder Dias — Como foram os dias anteriores à decisão de não sair candidato a prefeito de Goiânia?
Tenho 51 anos de idade e cheguei a Goiânia com 3. Portanto, são 48 anos na cidade em que eu cresci e na qual fui procurador-geral de Justiça e secretário de Se gurança Pública. Conheço Goiânia a fundo, estudei muito sobre a capital e tenho projetos que considero excelentes para ela. Mas o fato é que muita gente vinha pedindo para que eu não candidatasse, principalmente dentro da cúpula nacional do DEM. Houve uma reunião nacional, com todos os líderes, na qual disseram que, se eu saísse, enfraqueceria a representação nacional do partido. Como eu sou uma referência do Democratas no Senado e tenho experiência parlamentar, isso ajudaria muito a sigla nacionalmente. Outro pedido veio dos prefeitos do interior do Estado, que estavam te merosos de eu deixar o Con gresso e eles, com isso, perderem o acesso a emendas e outros benefícios orçamentários. Então, havia muita gente me cobrando para que eu não saísse candidato em Goiânia neste momento, uma vez que acabei de me reeleger senador. O governador Marconi Perillo queria muito que eu fosse candidato, mas, ao mesmo tempo, achava que, por eu ter uma boa participação em prol do Estado aqui em Brasília, ajudando em várias questões, como a da Celg, eu seria im portante também no Con gresso. Fiquei nesse impasse, mas, por fim, houve quase uma blitz para que eu permanecesse no Senado e eu tive de ceder, procrastinando por um tempo esse so nho de ser candidato a prefeito de Goiânia.
Elder Dias — O fato de o sr. ter sido eleito em 2010 para um novo mandato, que agora começa apenas o segundo de oito anos, também influenciou nessa decisão?
Também, já que muitos prefeitos cobraram isso de mim, queriam que eu ficasse no mínimo quatro anos. Muitos depositaram sua esperança em projetos, benefícios e verbas orçamentárias que eu viabilizaria. Enfim, havia essa cobrança grande. Pesando tudo, decidi não sair neste momento.
Cezar Santos — Natu ral men te, o sr. vai apoiar o nome que a base aliada ao governo escolher. Já tem algum nome que reuniria as melhores condições para vencer o pleito, que vai ser difícil?
Temos bons nomes na oposição. Vai ser um bom pleito e acho que temos gran des chances de vencê-lo, seja pelo modo de administrar do PSDB, do DEM e de toda a base aliada, seja pelos problemas que vem atravessando o prefeito e que não serão esquecidos durante a campanha — embora eu particularmente torça para ele sair limpo de tudo isso. Mas, enfim, temos bons candidatos: Jovair Arantes (PTB), Leonardo Vilela (PSDB), Fá bio Sousa (PSDB), Armando Vergílio (PSD), João Campos (PSDB), Francisco Júnior (PSD). São candidatos que têm um potencial muito grande. Já sobre José Eliton (DEM), francamente creio que ele não deverá sair candidato. Conversamos sobre isso e ele prefere ficar na vice-governadoria. Penso que brevemente ele vá se tornar secretário de Marconi, que sempre gosta de prestigiar seus vices. Logo, em um balanço geral, vejo que temos nomes extraordinários para apresentar à população e fazermos uma boa disputa.
Cezar Santos — O sr. vinha estudando Goiânia, a fim de apresentar um projeto exequível para a cidade como candidato. Quais os problemas preponderantes que existem na atual administração?
Até para não ser oportunista, não quero fazer críticas. Mas vejo que Goiânia tem se tornado uma cidade encardida de novo, feia. Recentemente o “Fantás tico” fez uma matéria em que destacou o fato de Goiânia ter mais de 10 mil buracos. Um destaque muito negativo para a cidade. Já temos também cracolândias, o que é muito sério. Negli gencia-se um papel fundamental em relação à segurança pública, que é a Guarda Municipal armada, uma instituição que precisa ser usada a favor da resolução dos pro blemas de segurança da ca pital. Acabou aquela conversa petista de que a criminalidade teria causas meramente sociais. Isso foi derrubado, porque nos últimos anos, o Brasil só vem reduzindo a desigualdade social e, ao contrário do que eles previam, o crime só fez ampliar seu raio de ação sobre a so ciedade. Esse será um bom tema. Eu apostaria muito também na despoluição do Rio Meia Ponte. Há como fazer isso, e rapidamente. Na questão do transporte coletivo, além do VLT — que é um projeto da União que vai ser executado com a participação do Estado. O município precisa entrar nessa discussão. Eu já tinha conversado também com alguns urbanistas importantes no sentido de buscar um projeto para redesenhar o trânsito de Goiânia, criando saídas baratas, com trincheiras e viadutos, nada faraônico, algo para o dia a dia mesmo. Também tinha pensando em como fazer uma iluminação pública diferenciada, mais barata e eficiente. Outro aspecto seria uma reciclagem industrial do lixo, como existe em países desenvolvidos. Na área de educação, eu pretendia buscar a parceria da iniciativa privada, para que ela pudesse subsidiar as escolas. Então, para uma empresa que se instalasse por aqui, eu daria incentivos fiscais e faria obras para que elas participassem ativamente da vida dessas escolas, adotando-as. Elas ajudariam no gerenciamento da escola e contribuiriam para o aumento inclusive do salário dos professores, dando prêmios. Eu colocaria, com certeza, um ou dois guardas municipais na porta das escolas para afastar o perigo do tráfico de drogas e dar tranquilidade para os professores trabalharem e os pais e alunos também se deslocarem com segurança. Na área de saúde, eu tinha feito já um grupo muito grande para estudar o quadro municipal de forma a otimizar o processo e fazer com que o corpo clínico trabalhasse da melhor maneira, pensando como as pessoas poderiam ser atendidas na própria casa em ocorrências de menor gravidade. Tam bém pensei bastante sobre como reduzir a roubalheira no sistema de compras, na questão do desvio de medicamentos e na melhoria do modo de se fazer as licitações. Sobre o centro histórico de Goiâ nia, eu gostaria de transformar aquele local em uma área de lazer importante novamente, para voltar a ser uma área de comércio e diversão ali naquele espaço. É bom lembrar que a cidade tem um dos mais ricos acervos de art déco do mundo e que hoje está totalmente esquecido. Tudo isso sempre com gente de referência nacional envolvida nos projetos, com dicas importantes para melhor o padrão da capital em termos de Brasil. Enfim, eu tinha preparado um projeto para transformar Goiânia na principal cidade do Brasil, não em termos de gigantismo, mas em termos de inovações.
Cezar Santos — Esse pré-estudo vai estar à disposição do candidato da base aliada, naturalmente…
Primeiramente, vou trabalhar para tentar fazer com que tenhamos um candidato único. Assim como deseja o governador Mar coni. Todos devem se lançar a gora, mas lá na frente devemos a funilar, porque é mais importante e benéfico estarmos juntos do que isolados. Se esse candidato escolhido quiser, tenho esses es tudos e, claro vou repassar, caso ele queira. Mas cada um tem seu ideal, sua compreensão, sua visão de mundo. Eu não posso esperar que alguém tenha sequer 20%, 30%, 40% com o meu jeito de ver as coisas, ainda mais uma totalidade. Mas, no que precisarem de mim, quem quiser terá minha colaboração, seja por meio de projetos, seja no corpo a corpo. E tenho convicção, de verdade, de que faremos o novo prefeito de Goiânia.
Cezar Santos — O sr. vai estar firme, no palanque, com esse candidato?
Vou estar no palanque, andando, caminhando, ajudando, enfim, sendo leal em tudo a esse candidato escolhido.
Cezar Santos — Em termos de política nacional, o PT fez agora a privatização — embora neguem o termo e falem em concessão — de três aeroportos. Caiu o mito da demonização que o PT fazia sobre esse tema?
O PT jogou pedra na santa, chutou a santa, a verdade é essa. O PT tinha um discurso contra as privatizações, o qual aliás foi encampado pelo PSDB, que se omitiu em defendê-las. As privatizações foram um grande legado para o Brasil e venho dizendo isso em todos os lugares em que posso falar. O PT optou por uma maneira de privatizar e isso, eu ressalto, é importante, porque o Estado não tem dinheiro para fazer investimento. Mas, no caso do PT, a opção foi péssima, pior do que a da época tucana, porque deixou 49% na mão da própria Infraero e captou recursos fazendo uma concessão por grande tempo. Só que esses recursos serão 80% financiados pelo BNDES. Isso significa uma espécie de estatização, que deixa a Infraero em uma situação muito incômoda, que é a de vender, mas, ao mesmo tempo, ter de pagar para fazer o investimento. Acredito piamente que esse modelo deva se expandir. Um exemplo é a área de água e esgoto, este principalmente. A universalização do acesso ao esgoto, pelo ritmo atual, está prevista para ser concluída em 150 anos. Como vamos ficar em uma situação como essa? Para quem vai receber o benefício não interessa saber para quem ele vai pagar, não interessa se é o Estado ou é particular, desde que o Estado regule o preço e este seja um preço decente. Isso vale também para a área de rodovias e portos. Falo sempre que o Brasil é um país rico, a 6ª ou a 7ª economia do mundo. Só que a permanência, a queda ou a ascensão nesse ranking depende de nossas escolhas. Podemos subir ou, daqui a 30 anos, cair para o 30º ou o 40º lugar. Qual é a opção brasileira por educação ou por infraestrutura? Nossa infraestrutura é uma piada perto da infraestrutura americana ou da europeia. Onde estão as nossas linhas de trem de ferro? Cadê nossas estradas duplicadas? Então temos de acabar com essa demagogia: o Estado tem de cuidar das áreas essenciais e a iniciativa privada tem de ser chamada a participar do desenvolvimento. Mas, digo, a iniciativa privada correndo seus riscos e não essa iniciativa que recebe dinheiro do BNDES para fazer investimentos, porque aí, no fim de tudo, é dinheiro público também.
Elder Dias — No último pleito presidencial, ficou claro que o PSDB se recusou a ser a direita do processo. O partido se omitiu de falar de privatização e de outras bandeiras alternativas ao discurso do PT. O sr. acha que está faltando identidade ao PSDB e que, de certo modo, isso também tem afetado o DEM?
O PSDB é um partido com linha ideológica mais identificada com o PT do que com o DEM. O PT não se transformou em um partido socialista e acabou mi gran do para a social de mocracia. E o PSDB é um partido social democrata. São, ambos, muito parecidos, com ideias praticamente iguais e temerosos de tomar decisões mais contundentes. O DEM é, efetivamente, um partido liberal. Só que nossa sigla também passou por uma crise de identidade, com essa história de ter de ficar longe do governo e, ao mesmo tempo, alguns membros quererem participar. Vários parlamentares fizeram acordo com o Planalto e, agora, muitos acabaram migrando explicitamente, por meio do PSD. Temos de ver que são 44 milhões de votos na oposição. O PT nem na fase mais áurea da economia, nem com Lula, conseguiu ganhar as eleições no primeiro turno. Para o DEM honrar esse voto do eleitor, então, é preciso de fender abertamente o liberalismo, defender abertamente o mercado, defender o mérito, acabar com essa história de ampliação dos programas sociais. Quem hoje tem uma bolsa quer um emprego; e quem tem um emprego quer prosperar, quer fazer um investimento. Ou seja, o governo deve investir em pequenas empresas, no mérito, no trabalho, na prosperidade, na qualificação, no estudo, na escola em tempo integral. Não adianta nada o governo criar cotas raciais. Isso vai melhorar o País em quê? Além do mais, é uma medida discriminatória, porque diferencia o pobre. Quem precisa ser incentivado no Brasil é o pobre, independentemente de sua cor, se é branco, amarelo ou negro. Isso tanto faz. O que temos é de incentivar todos. Criar cota racial pra quê? Para atender ao filho do Ney mar? (enfático)
DEM precisa ser protagonista das eleições”
Elder Dias — Em relação a essas polêmicas, temos no governo uma ministra, Eleonora Menicucci [Secretaria de Política para Mulheres], que se colocava abertamente a favor da descriminalização do aborto antes de entrar no governo. O que o sr. pensa a respeito?
O pior é que essa ministra agora diz que sua posição é a que o governo tiver. Precisamos acabar com a mentira. Por que dar uma entrevista e depois voltar atrás? Essa ministra que está aí já fez até curso de aborto na Colômbia, onde a prática também é proibida, e explicava a mulheres como fazer um autoaborto por sucção. Tiraram uma declaração dela em um site da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre isso, depois de seis anos. É um constrangimento desnecessário. Se a pessoa tem uma posição, que a assuma. (enfático) Eu sou a favor do casamento entre homem e mulher, sou contra o aborto e creio em Deus. Se isso é defeito ou é qualidade, independentemente disso, é o que eu sou. Então, por que se têm outra opinião, se assumam, não importando como a opinião pública vai lidar, tem de assumir. Porque, no fim, as pessoas vão acabar tratando tudo de uma forma leviana. Em meu caso específico, o que eu deploro é a mentira. Essa ministra é mentirosa, uma vez que ela dava curso de aborto e agora chega e rasga tudo o que disse. As pessoas no Brasil, e os políticos especialmente, têm de aprender a externar seu pensamento. Fora disso, é ilusão. Essa ministra, pelo que vi de sua conversa e de sua qualidade intelectual, não tem condição de limpar as paredes do ministério. Mas, enfim, foi escolhida pela presidente e a gente respeita. Critica, mas respeita. O que não aceito é a prática da mentira.
Cezar Santos — O sr. disse há pouco algo sobre uma crise por que o DEM passou. Mas o DEM não continua em crise, senador? Não corre o risco de se fundir a outra sigla ou até mesmo de se extinguir?
Nós já tivemos a oportunidade de criar um novo partido por meio de uma fusão e não fizemos. Isso é um discurso, uma forma de deixar o DEM em crise permanente, nada mais do que isso. Vamos disputar os governos dos Estados e a presidência da República e, agora, as prefeituras. A crise do DEM passou com a criação do PSD. O resto é balela.
Elder Dias — A relação umbilical do DEM com o PSDB, um partido social democrata, durante tanto tempo não deixou o partido sem identidade própria e enfraquecido ideologicamente?
Claro, obviamente. Enfraqueceu de todas as formas. O DEM orbitou em torno do PSDB. Era um partido satélite. Ora, um partido satélite não chega a lugar algum. A lua jamais chegará a ser planeta. O DEM, se quiser disputar bem as eleições, tem de começar a ser protagonista delas. À medida que fica como um partido agregado, não vai chegar longe. É claro que nossas alianças preferenciais são com o PSDB, nosso parceiro de longa data, mas apenas isso, um parceiro. O que o DEM precisa fazer é lançar candidatos, inclusive a presidente da República.
Elder Dias — E esse candidato é o sr.?
Quem me dera! (risos) O DEM vai decidir isso em 2013. É claro que meu nome é cogitado e eu não fujo da raia. Se me chamarem, vou para o combate e o debate. Mas temos outros grandes nomes dentro do partido.
Cezar Santos — Em 2014 também tem eleição para governador. O sr. também tem projeto em relação ao governo de Goiás?
Claro. Já fui candidato a governador e tenho a pretensão de administrar meu Estado. Mas meu candidato é Marconi Perillo. É bom lembrar que Marconi pode, sim, ser candidato a presidente da República, o que pode acontecer: José Serra, para mim, é carta fora do baralho e Aécio Neves ainda não se firmou. O próprio PSDB cogita Beto Richa [governador do Paraná] e Marconi Perillo. Se Marconi for candidato a presidente ou, por outro motivo qualquer, não for candidato ao governo, meu nome está à disposição.
Elder Dias — Para o sr., então, o PSDB também está em crise de identidade?
Sim, muito pela questão da omissão. O PSDB tem um potencial novo candidato (Aécio Neves) aqui no Senado, mas ele tem pouca rotina no Congresso. E aqui é preciso estudar, trabalhar, é preciso gostar disso aqui. Quando o Mão Santa [ex-senador pelo DEM-PI] estava por aqui, eu dizia que para ser senador era preciso aguentar os discursos dele por três ou quatro horas seguidas. É preciso saber que o Legislativo é diferente do Executivo. Aqui não temos nada para dar de graça para ninguém. Aqui é preciso lutar, têm discursos, projetos, conseguimos mudar leis etc., mas é bem diferente: não é como no Executivo, que tem a caneta na mão, que pode escolher a quem beneficiar, qual cidade, qual prefeito que gosta mais. São coisas completamente diferentes. Acho que o Aécio ainda está pegando esse ritmo. Tomara que emplaque. Mas, se não emplacar, o nome de Marconi é um nome a ser considerado para ser o candidato a presidente da República.
Elder Dias — Em relação a esse papel da Casa, que comparação o sr. faz do Senado quando o sr. assumiu o primeiro mandato e agora, nesta sua segunda legislatura? Há diferenças?
Hoje o Senado está muito mais enfraquecido, por uma série de razões. Uma delas é que o presidente do Senado [José Sarney, PMDB-AP] não tem coragem de devolver medidas provisórias (MPs). Com isso, a Câmara dos Deputados não aprova nada que possa fazer com que o Senado tenha um papel preponderante na discussão dessas MPs. Elas são, por seu turno, a principal forma de produção legislativa, hoje. Então, o Senado tem um papel de segunda linha. A Câmara se transformou em um poder mais importante do que o próprio Senado. Outro fator é que temos hoje aqui uma maioria governista expressiva e muita gente absurdamente despreparada, com um viés apenas de assistencialismo, primário. Dá vontade de desistir ao ouvir certos discursos, que parecem coisa de grêmio estudantil. Hoje, a oposição não tem força para instalar uma CPI que seja, ou para convocar um ministro. Precisamos de 27 assinaturas e desde o ano passado só tenho 22 para iniciar uma investigação sobre o BNDES. Claro que em um momento de descontentamento eu posso até pegar essas assinaturas que faltam, mas no passado chegávamos a ter 35 ou até 40 votos, muitas vezes derrubávamos a proposta do governo. Hoje, fazer oposição está mais difícil, em termos numéricos. Ao mesmo tempo, é prazeroso fazer esse enfrentamento quase que cotidianamente. O que precisamos é de gente na oposição disposta a fazer oposição. Porque, se quisermos parecer com o governo, seremos cópia. E entre cópia e original, o povo vota no original, nunca na cópia.
Cezar Santos — O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ganhou um duelo importante no Supremo Tribunal Federal (STF). Como o sr. viu essa vitória?
Eu apresentei uma proposta de emenda constitucional (PEC) que, creio, ajudou o CNJ a manter suas atribuições e deixava claro que o conselho tinha poder de atuar originariamente e não subsidiariamente, tendo de passar primeiro pelas corregedorias locais dos tribunais de Justiça. Esse foi um embate vencedor, em que tivemos o apoio da sociedade. A ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon [corregedora nacional do CNJ] se sobressaiu. Tive a oportunidade de participar de um debate com ela e o presidente da Associação Paulista de Magistrados de São Paulo [Roque Mesquita], pela “Folha de S. Paulo”. Foi um belo debate. Enfim, na decisão do STF houve vários votos — uns contrariados, outros menos — que citaram meu nome. Fico feliz com isso, acho que estou representando bem meu Estado. Nessas questões jurídicas, então, sou frequentemente chamado a participar. Na questão do CNJ, acho que ajudei o Brasil.
Cezar Santos — A ministra Eliana Calmon se diz preocupada com o fato de o CNJ ter tido suas prerrogativas fortalecidas apenas pela diferença de um voto…
Temos nossa PEC aí e, por meio dela, vamos votar e deixar claro: onde está escrito “receber e conhecer” vamos mudar para “processar e julgar”, porque assim fica tudo mais claro, qualquer que seja a composição do STF.
Cezar Santos — Como o sr. avaliou esse movimento das polícias? O Estado da Bahia ficou refém de grevistas armados e o número de homicídios cresceu, inclusive com indícios de participação de PMs.
Isso se chama banditismo. Greve armada é inaceitável. Sou um homem que sempre defendeu a polícia, o tempo todo. Mas nesse caso, não, porque é chantagem: como se negocia com alguém armado? O policial militar não tem direito a greve, mas tem direito a aumentar seu salário. Estou aqui para ajudá-los nessa questão nacional, ainda que seja com a criação de um fundo, para que a União ajude a complementar os vencimentos deles nos Estados. O salário dos PMs é inaceitável, fraco, aviltante, mas não pode ensejar esse tipo de atitude, porque assim se perde o apoio da sociedade e o policial passa a ser confundido com o bandido. Em escutas, percebeu-se que eles estavam, inclusive, tramando prática de crimes. Minha concepção é que policial tem de estar de um lado e bandido, do outro. Quando o policial começa a parecer com bandido, perde o apoio da sociedade e o meu também. Sou um apoio importante para a classe aqui, tudo o que vem contra a polícia aqui eu ajudo a derrubar, seja qual for a polícia. É uma instituição que lida com o esgoto da sociedade, com aquilo que ninguém quer mexer. Agora, a polícia tem a arma porque a sociedade dá essa arma a ela para enfrentar os bandidos em nosso nome e muitas vezes o uso da força é necessário. Só que polícia agir mascarada, matando, assaltando, queimando carros, enfim, agindo como bandidos, jamais é aceitável, não é polícia.
Cezar Santos — A votação da PEC 300 [que estabelece a obrigatoriedade de um piso nacional para bombeiros e policiais militares] nos termos em que ela se encontra é exequível?
Provavelmente não, porque não dá para obrigar o Amazonas a pagar como São Paulo. Mas, de qualquer forma, é uma boa fonte de pressão. A União, porém, pode complementar esse valor. Acho que, se houver esse fundo, de imediato muitos Estados vão ter salários multiplicados. Isso já é de grande valia e, por isso, está na hora de essa medida ser tomada.
Elder Dias — Sobre outra greve, a do setor da educação em Goiás, como o sr. se posiciona em relação ao salário dos professores e à disputa entre meritocracia e titularidade?
Confesso que estou um tanto afastado dessa questão. É, entretanto, algo grave e sempre bombástico. A questão salarial precisa de nosso apoio, mas também não pode ser vista sob um prisma sindical. Acredito que o governador do Estado e o secretário da Educação estão dando esse primeiro passo para virem com outro logo depois e recompensar eventuais perdas. Acho que os sindicatos deveriam dar um crédito de confiança ao governar até que se possa resolver definitivamente o problema.
Elder Dias — Como o sr. vê as alianças do Brasil com outros países visados internacionalmente, como Cuba, Venezuela e Irã, diante da geopolítica mundial?
A presidente Dilma Rousseff cortou, exatamente no momento em que estamos nesta entrevista, R$ 55 bilhões do Orçamento. Ao mesmo tempo, ela tem um projeto para ampliar em quase 1,5 mil vagas o número de diplomatas e de pessoal administrativo no Itamaraty. Ou seja, ela está expandindo desnecessariamente uma rede para todos os países. O ideal seria que o Brasil pudesse se relacionar com todo o mundo, mas é preciso se relacionar com os principais países. Participo todo ano da Assembleia Geral da ONU, como observador do Senado, e digo com toda a franqueza: o Brasil tem a aspiração de participar do Conselho de Segurança como membro permanente, mas a chance é zero. Isso porque há essa demagogia na política externa, ao longo dos anos. Nenhum país do mundo admite o que fez a presidente semanas atrás em Cuba, o que aliás já tinha sido feito pelo ex-presidente Lula, no episódio dos boxeadores cubanos, em que ele mandou os atletas imediatamente para o país. Há uma relação promíscua com Cuba. Estive lá: é um país absolutamente decadente, doido para ser capitalista, com um índice de prostituição elevadíssimo e deficientes físicos pedindo esmola nas ruas, com poder aquisitivo zero. Criaram a ilusão de que Cuba seria um grande país, um país resistente. Não se deram conta de que o Brasil hoje poderia ter influência sobre todo o mundo. Ao invés disso, cortejamos Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e outros bolivarianos. Outro erro é o apoio à política externa do Irã. Agora, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quer saber qual é a real posição da presidente Dilma em relação ao país. Poderíamos ter, no mundo, uma influência muito grande, mas partimos para ser um líder de nanicos. Um colunista da “Veja”, Reinaldo Azevedo, chama o Brasil de hoje de “megalonanico”, um país sem musculatura. Exceto com as nações periféricas, não temos respeitabilidade alguma em política externa. Mas o tempo caminha e vamos ver no que vai dar tudo isso.
Fonte: Jornal Opção, Goiânia
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