Brasilienses deixam a desejar quando o assunto é limpeza, mostra pesquisa

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Maria Gorete trabalha em um shopping e não para no horário do almoço: "As pessoas deixam na mesa, os outros chamam para limpar"

 O comportamento social dos brasileiros e dos brasilienses deixa a desejar quando o assunto é limpeza e bem-estar. No DF, é fácil encontrar pessoas descartando papéis de bala, latas de refrigerante, copos, panfletos, chicletes e pontas de cigarros pelas ruas. A forma como as pessoas agem em uma praça de alimentação de um shopping center pode explicar a relação delas população com o próprio lixo. Apesar de afirmarem que deixar uma bandeja com restos de comida na mesa é errado e pouco educado, a maioria das pessoas não põe o discurso na prática.

Em pesquisa realizada durante oito meses para o doutorado em psicologia social na Universidade de Brasília (UnB), Cleide Maria de Sousa observou que 93% das pessoas não descartam os resíduos que produzem nesse ambiente. O estudo partiu da curiosidade da pesquisadora quanto ao motivo que leva as pessoas a jogarem lixo na rua. O ato é hábito de muita gente. “Estudos internacionais apontam que o item mais descartado em escala mundial é o cigarro. Ele é jogado em todos os ambientes públicos que se imaginar, inclusive nos oceanos”, salienta a pesquisadora. De acordo com ela, trata-se de um comportamento automático dos fumantes. “Ele foi tão repetido durante a vida da pessoa que ela nem percebe mais quando o faz mais uma vez, mesmo que seja alguém com consciência ambiental”, detalha.

Homens e mulheres, jovens e adultos, pessoas sozinhas e em grupo agem de forma diferente ao descartar lixo. Em um dos shoppings mais movimentados da capital, durante o horário de almoço, mais difícil do que encontrar uma mesa vazia é encontrar uma limpa. Por dia, passam, em média, 55 mil pessoas pelo Pátio Brasil. O ambiente é considerado semipúblico. “Homens, jovens e pessoas em grupo têm inclinação maior em deixar as bandejas para trás. Quanto maior o grupo, maior a probabilidade de ir embora sem limpar a mesa. No caso das mulheres, a frequência do descarte é maior por reflexo do papel social que elas desempenham”, aponta Cleide. A pesquisadora defende que elas são treinadas para fazer a manutenção da casa e generalizam a ação em outros locais.

No namoro entre o operador de telemarketing Bernelli Valeriano, 24 anos, e a enfermeira Natália Rezende de Melo, 24, é mesmo ela quem puxa a orelha do companheiro, exigindo boas maneiras. “Mando pegar no chão e jogar na lixeira. Não aceito de jeito nenhum”, garante. Bernelli concorda. “Já joguei na rua na frente dela. Agora nunca mais faço isso”, lembra. Entretanto, o casal ainda não levou a prática para dentro dos shoppings. “Nunca parei para pensar nisso”, comenta a moça.

Questionada, ela reflete: “Acho errado e fico com vergonha, mas admito que deixo na mesa”. A justificativa dada pelos dois é a correria em que se encontram as pessoas ao fazer as refeições nesses locais.

Por perceberem a presença de funcionários que recolhem os restos, o fluxo intenso de pessoas na praça de alimentação e a distância das lixeiras, os frequentadores dos shoppings acabam não se preocupando em limpar a mesa. Mas medidas simples podem reverter a prática. Por cinco semanas, na última parte da pesquisa de Cleide, as mesas receberam mensagens escritas, tais como “Você deixa o lixo por aí?” e 58% das pessoas passaram a devolver os pratos. As funcionárias dos shoppings agradecem. Maria Gorete da Costa conta que, das 12h às 14h, ela mal tem tempo de respirar. “Fico por conta de recolher bandejas. As pessoas deixam na mesa, os outros chamam para limpar, é um serviço que não acaba. Isso depende da vontade de cada um ajudar ou não”, diz.

Sujeira pela janela

Segundo o estudo da UnB, o ato de espalhar sujeira pela cidade revela a falência da norma social que controla essa conduta. Falta punição, segundo a pesquisa. Vale lembrar que, pelo Código Brasileiro de Trânsito, jogar resíduos pela janela representa infração média, que pode resultar em multa de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira de habilitação. De acordo com o Departamento de Trânsito do DF, em 2010, 169 pessoas foram multadas por esse motivo. Entre janeiro e junho do ano passado, o Detran registrou 108 infrações do tipo. 

Fonte Correio BRaziliense

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