Roberta Machado
Ceilambódromo: apesar da pouca infraestrutura, o espaço atrai 60 mil pessoas a cada noite de carnaval. No Plano Piloto, o público chega a 12 mil
A típica indecisão que precede cada carnaval brasiliense, desta vez, colocou em cheque o lugar da festa popular. Depois de sete anos de realização em Ceilândia, cogita-se o retorno do desfile das escolas de samba para o Plano Piloto. A pouco mais de um mês da comemoração, a mudança ainda é debatida dentro do governo e por carnavalescos, que estão divididos. Enquanto as agremiações de regiões vizinhas ao Ceilambódromo defendem a permanência da avenida onde está, representantes de cidades ao norte do DF apoiam a volta do antigo Caldeirão da Folia, ao lado da Torre de TV.
A Secretaria de Cultura e o Governo do Distrito Federal (GDF) não confirmam nem negam a mudança. A decisão cabe ao governador Agnelo Queiroz, que retorna do recesso na próxima segunda-feira. “A Secretaria de Cultura nos apresentou uma planta da arquibancada para a Torre de TV, para mim já estava definido. Mas disseram que não está mais. Agora, estamos tratando dos repasses”, esclareceu o presidente da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Brasília (Uniesbe), Geomar Leite.
Segundo o representante da Uniesbe, a mudança de endereço foi um pedido das próprias agremiações. Algumas das escolas de samba reclamam da falta de estrutura e da localização do Ceilambódromo, local que não conta com nenhuma preparação permanente para a festa anual. Todos os anos, o governo monta as arquibancadas da passarela do samba no terreno vazio. No ano passado, as estruturas do desfile, do Granfolia e das comemorações do Parque da Cidade e de Taguatinga custaram aos cofres do DF mais de R$ 4 milhões.
No papel - Em 2005, o arquiteto Oscar Niemeyer divulgou o projeto de um Sambódromo para Brasília, semelhante ao Marquês de Sapucaí carioca. Em 2006, o então governador Joaquim Roriz sancionou a lei que autorizava o projeto, mas ele nunca saiu do papel. Sem sede própria para a festa de Momo, os desfiles já foram realizados na Rodoviária, na Avenida W3 Sul, no Ginásio Nilson Nelson, no Eixão e até mesmo no Autódromo. “Se fosse para sair de Ceilândia, seria melhor que fosse para um lugar onde fosse construído o sambódromo e a cidade do samba. As escolas clamam pelos terrenos”, ponderou Geomar.
Outro motivo da hesitação em deixar o lugar atual é a disputa entre as escolas de samba com sede próxima ao Ceilambódromo e as que precisam percorrer uma distância maior para chegar ao desfile. “Consideramos que o carnaval é a festa do povo, e deve ser realizado no centro da cidade como em qualquer lugar do Brasil. Se a mudança se confirmar, é uma grande notícia”, avaliou o presidente da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (ARUC), Moacyr Oliveira.
A festa realizada em Ceilândia atrai cerca de 60 mil foliões por dia. Para algumas agremiações, porém, esse não é um grupo igualitário. Eles afirmam que o público do Ceilambódromo se resume aos moradores da região. “Hoje, temos dificuldades para escolas de Sobradinho e Planaltina, por exemplo, levarem os carros alegóricos para Ceilândia”, reclamou Alberto Alves Júnior, diretor da Acadêmicos da Asa Norte. Para ele, a mudança é bem-vinda, desde que o padrão da comemoração seja superior ao dos últimos anos. “Entendemos que tem de haver mais investimentos de estrutura, segurança e apoio logístico.”
A Águia Imperial de Ceilândia, porém, defende a permanência da festa popular na sua cidade sede. “A gente tem certeza que, se mudar, será ruim para o Carnaval. No Plano Piloto, ele estava morto. O público aqui é de 60 mil, lá é de 12 mil. A comunidade de Ceilândia abraçou o carnaval”, justificou Ronieri Rezende, presidente da escola. Ele também admite que há interesse da escola em manter o apoio da comunidade local dos desfiles, sentimento que é partilhado por outras agremiações. “Eles preferem lá porque está mais próximo do povão. Meu medo é que seja uma decepção em termos de público. Os moradores do Plano Piloto não vão ver carnaval”, opinou Vicente Bezerra, presidente da Dragões de Samambaia.
Memória
Festa sem planejamento
Em 2011, o Governo do Distrito Federal e as escolas de samba discutiram o orçamento do carnaval de Brasília até o último minuto. Por meses, as agremiações, endividadas com os fornecedores, trabalharam baseadas em promessas de um governo que já não estava mais no poder. Enquanto as escolas pediam mais de R$ 3 milhões somente para a festa do Ceilambódromo, o orçamento para o carnaval do ano passado estipulado pela Câmara Legislativa era de R$ 1 milhão. Na última hora, o Executivo destinou quase mais de R$ 8 milhões e elevou para cerca de R$ 10 milhões o orçamento da festa de Momo. Porém, a poucas horas do início das festividades, o alvará de funcionamento do sambódromo brasiliense ainda não havia sido liberado pela Defesa Civil do DF. Durante a vistoria, os agentes encontraram irregularidades na fixação de cordas de aço e madeiras das arquibancadas, que ofereciam insegurança ao público. A avenida do samba foi liberada apenas quatro horas antes do início da programação.
Fonte: Correio Braziliense
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