Uma fábrica de xadrez e dama da Bahia - você leu certo - recebeu quase R$ 10 milhões do Ministério do Esporte. E quem anda por ali? O PC do B

quarta-feira, 19 de outubro de 2011


  • Um único projeto do Ministério do Esporte, uma fábrica de jogos de xadrez e
    dama, mudou a relação de forças políticas na cidade de Conceição do Jacuípe,
     na Bahia. Nos últimos três anos, a Associação Cultural Jacuipense, entidade
    classificada como “associação privada” pela Receita Federal e responsável pela
    fábrica, recebeu do Ministério do Esporte R$ 9.815.365,70 - três vezes mais do
    que as verbas repassadas por programas federais para a prefeitura da cidade,
    que tem 29 mil habitantes, entre 2009 e 2011. Só este ano, a entidade
    recebeu R$ 3.825.734. No último dia 2, a quadra da Associação Cultural Jacuipense
    foi usada pelo PCdoB para fazer uma conferência, onde o partido lançou
    diretoria provisória e iniciou articulação para as eleições de 2012, com participação
    de representantes do PT.

    A fábrica emprega 142 pessoas. Seu último contrato com o ministério prevê a
    fabricação de 180 mil jogos entre julho deste ano e maio de 2012. De acordo com
    dados do Portal Transparência, foram repassados R$ 1.663.552para a fabricação
    de 90 mil jogos de xadrez e outros R$ 1.448.996,37 para 90 mil jogos de dama.
    Os dois últimos repasses conseguidos pela prefeitura do município, um para
    habitação popular e outro para pavimentação e drenagem de ruas, não alcançam
    este montante - somam R$ 1,289 milhão.

    A escolha da entidade para administrar a fábrica foi feita de forma bem simples,
    sem concorrência. Alírio Dantas de Azevedo Filho, um professor de línguas que
    fundou a Associação Cultural Jacuipense há 30 anos, diz que apresentou o projeto,
    que foi encampado pelo governo:”Fizemos o projeto e entregamos ao ministério,
    que analisou. E fomos contemplados. Não houve nada de especial.”

    O projeto da fábrica faz parte do Pintando a Cidadania, programa destinado a
    oferecer oportunidades de emprego em comunidades carentes. Antes de comandá-la,
    a associação era voltada a ações culturais e de educação. Entre 1997 e 2000 não
    há registro de repasses federais à associação, que ganhou fôlego após os contatos com
     o Ministério do Esporte.

    Funcionários da fábrica ganham, em média, R$ 600
    Alírio nega ter interesse de se candidatar a prefeito no ano que vem. Segundo ele,
    sua presença na reunião do PCdoB foi meramente um acaso: “É normal usar a quadra
    da associação para festas de aniversário e casamento. Fui chamado para a reunião
    do PCdoB e eu fiquei lá”.

    Nas últimas eleições, Alírio pediu votos para o ex-deputado estadual Javier
    Alfaya (PCdoB), que não se reelegeu. O twitter de Alfaya (@alfaya) mostra
    uma propaganda de convite para discutir a Copa de 2014, em setembro do ano
    passado, com as fotos do ministro Orlando Silva, de Alfaya e do deputado federal
    Daniel Almeida (PC do B/BA).

    Por Cleide Carvalho, no Globo




    Fonte: Veja.com - Coluna Reinaldo Azevedo / O Globo
  • 19/
    10

    Onde começa a fraude

    12:52:40

    O ministro do Esporte, Orlando Silva, do
    PC do B, atribuiu ao seu antecessor e
    ex-correligionário Agnelo Queiroz, que se
    filiou ao PT e se elegeu governador do
    Distrito Federal, a responsabilidade pela
    escolha de duas organizações não
    governamentais (ONGs) criadas pelo PM
    João Dias Ferreira para executar, mediante
    convênio, projetos no âmbito do programa
    Segundo Tempo, destinado a proporcionar a
    prática de esportes a crianças e jovens carentes.
    No ano passado, o policial foi preso por suspeita
    de participação no desvio de RS 1,99 milhão
    daqueles contratos. Ele, por sua vez, acusa o
    ministro de envolvimento pessoal com as fraudes,
    cujo produto seria canalizado para o caixa 2 do
    PC do B. A defesa de Orlando Silva é primária.
    Se é verdade que, na condição de secretário
    executivo da pasta, foi instruído pelo chefe a assinar um convênio com João Dias,
    o fato é que nada mudou depois que ele se tornou ministro; ou melhor, as
    irregularidades no Esporte ficaram mais evidentes.

    Debatendo-se no centro das denúncias, Orlando Silva procura ainda assumir o
    papel de moralizador anunciando o fim dos convênios com ONGs para o Segundo
    Tempo. Nenhum dos 11 contratos do gênero, a vencer no próximo ano,
    será renovado. Mas ele fala como se a escolha das entidades não guardasse
    qualquer relação com as mutretas que o escândalo trouxe à luz ou que já
    haviam sido expostas. Em 2010, conforme o Estado revelou em fevereiro,
    o Ministério repassou RS 30 milhões a ONGs de membros e aliados do PC do B.
    O que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União
    têm apurado não deixa dúvida de que a fraude, tosca e rasteira, é a regra.
    O TCU descobriu um caso em que cerca de 90% dos gastos correspondem a
    "atos impróprios". Trata-se de um convênio de RS 2 milhões entre o Ministério do
    Esporte e a Federação dos Trabalhadores no Comércio (Fetracom) para atender
    5 mil crianças do Distrito Federal. A auditoria só encontrou 348 crianças - e mazelas
    em profusão.

    A presidente Dilma Rousseff tem razão ao dizer que "existem ONGs e ONGs".
    Mas o número daquelas criadas para se apropriar de recursos públicos,
    não raro com a cumplicidade das mesmas autoridades que deveriam zelar
    por eles, é assombroso. Diante disso, a presidente se viu na obrigação
    de alertar recentemente os seus ministros para que filtrem as ONGs interessadas
    em se conveniar com o Executivo. Foi o que ela contou em Pretória, na África
    do Sul, onde participa da cúpula do Ibas, que reúne o país anfitrião, o Brasil e a
    índia, ao comentar a mais recente denúncia de corrupção no seu governo, que
    ela disse estar acompanhando atentamente. "Tem que se fazer uma chamada
    pública, tem de apurar se a ONG existe há mais de três anos", explicou. E não
    pode haver nenhuma possibilidade de convênio com ONG "que tiver incorrido em
    alguma falha, seja qual for".

    Dilma deixou clara a sua preferência por governos estaduais e prefeituras como
    parceiros da administração federal, porque as ONGs "são menos formais" em matéria
    de controles internos. O paradoxo é que os convênios com as ONGs aumentaram
    subs-tancialmente já no governo Fernando Henrique, na expectativa de limitar
    a influência dos interesses políticos locais ou regionais na execução de programas
    de alcance social. A preocupação é legítima e a alternativa seria válida se os
    Ministérios não fechassem os olhos para a proliferação de ONGs de fachada ou,
    como tudo indica ser o caso do Esporte, não fizessem arranjos espúrios com elas.
    Menos mal que os ministros agora tenham de assinar, eles próprios, os convênios de
    suas pastas, o que os torna diretamente responsáveis pelos contratos - e as
    associações contratadas. "Em muitos momentos do passado houve convênios
    com ONGs mais frágeis", reconheceu Dilma, em um eufemismo para não usar um
    termo mais forte.

    Essas considerações, porém, não simplificam o seu problema. Com a Copa do
    Mundo no horizonte, não há como ela preservar o ministro Orlando Silva.
    A sua capacidade de impor seus pontos de vista aos donos da FIFA, que já é
    pequena, ficaria ainda mais reduzida. E o Brasil não fez tanta força para sediar
    a mais popular competição do globo para passar vergonha.



    Fonte: Jornal O Estado de São Paulo

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