Reportagem de VEJA desta semana mostra que o Ministério da Justiça quer saber por que revelações da advogada que a máfia infiltrou no governo nunca foram incluídas nos inquéritos
Rodrigo RangelO vídeo do depoimento de Christiane Araújo em que ela fala de Gilberto Carvalho (à esq.) já está com o ministro da Justiça (Ed Alves/News Free - Fernando Cavalcanti)
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu à Polícia Federal cópia das gravações dos depoimentos da advogada Christiane Araújo de Oliveira. Na semana passada, VEJA revelou que, há mais de um ano, a PF tem em seu poder cerca de oito horas de impressionantes revelações feitas por Christiane. Infiltrada no governo por uma máfia que desviou mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos, a advogada contou os detalhes do relacionamento que manteve durante anos com o atual secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e com o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli quando ele ocupava o cargo de advogado-geral da União.
Com a ajuda de Gilberto, Christiane conseguiu, entre outras coisas, indicar um dos integrantes da máfia para um cargo importante em Brasília. Sobre Toffoli, ela confirmou, entre muitas outras coisas, que entregou ao hoje ministro gravações de áudio feitas pelos seus comparsas mafiosos, que incriminavam opositores do governo federal. Christiane, portanto, unia os interesses do governo aos da máfia e vice-versa.
Nelson Jr/ SCO/ STF
SOM A parte em que a advogada dá mais detalhes de suas relações com Dias Toffoli ainda não apareceu No Congresso, a oposição anunciou um pedido de convocação para que o ministro Gilberto Carvalho se explique ao Parlamento. No governo, os movimentos foram bem mais tímidos. O ministro José Eduardo Cardozo pediu à PF cópia das gravações.
Recebeu apenas uma parte do material: o vídeo com o depoimento da advogada ao Ministério Público, em que ela confirma que trabalhava em sintonia com a máfia, fala de suas relações com Gilberto Carvalho, Dias Toffoli e outros temas. Esse depoimento, de tão surpreendente, foi encaminhado à Polícia Federal, para que os investigadores o aprofundassem. Christiane, então, foi chamada por policiais da Diretoria de Inteligência da PF e por eles foi ouvida durante seis horas.
O material, no qual constam os detalhes — alguns bem sórdidos — sobre tudo o que a advogada fez, viu e ouviu durante seus quase três anos de relações com o poder, foi gravado em áudio.
Apesar do potencial explosivo, ou talvez por causa dele, o segundo depoimento de Christiane, classificado pelos policiais como “conversa informal”, não faz parte de nenhuma investigação oficial.
Procurado por VEJA, o Ministério da Justiça confirmou, por nota, que solicitou informações à Polícia Federal e que, “desde que configurada a ocorrência de infração funcional ou de qualquer ilícito, serão abertos os procedimentos cabíveis”. Uma fonte do Planalto confirmou que o ministro recebeu apenas uma parte do material (o vídeo). A Polícia Federal não quis se manifestar.
Veja
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