Um novo ciclo político pós-Roriz

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Wilson Silvestre
Jornal Opção
Joaquim Roriz: saída da disputa por causa da Lei da Ficha Limpa não o impede de entrar de corpo e alma na política
A Lei da Ficha Limpa retirou definitivamente da disputa eleitoral, o maior adversário que o PT do Distrito Federal poderia ter em 2014: Joaquim Domingos Roriz. No entanto, a prudência recomenda aos apressados mais calma na comemoração, que não entoem ainda a Internacional Socialista ou soltem fogos nas cercanias do Palácio do Buriti. A carta “Ao Povo de Brasília” divulgada por Roriz na quinta-feira, 16, logo após o resultado do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), decidindo pela aplicabilidade da Lei de Ficha Limpa ainda este ano, mostra que ele não desiste da política. Por causa do desempenho pífio do governo Agnelo Queiroz (PT), Roriz insinuava retornar ao embate eleitoral mesmo estando com a saúde fragilizada, pois lidera em todas as pesquisas a corrida ao Buriti em 2014, quando completará 78 anos.
Na carta dirigida aos brasilienses, Roriz deixa claro que não se afasta da vida pública e manda recado aos adversários: “Duas de minhas filhas, Jaqueline e Liliane, decidiram me seguir na política e já receberam a confiança dos brasilienses. Assim, continuaremos lutando por melhores condições de vida dos mais humildes, daqueles que padecem nas filas dos hospitais, nas paradas de ônibus, nas ruas inseguras”. Roriz é um animal político que vive 24 horas exercitando a arte da conversação. Ao reforçar o papel de oposição, ele deixa claro que vai transferir seu capital político para um novo grupo. “Roriz nunca conseguiu transferir voto para um candidato de sua base, mas, agora, a situação é diferente. Ele vai atuar como um grande conselheiro das filhas e, principalmente, de Rogério Rosso (PSD), espécie de filho político”, avalia o cientista político da U­niversidade de Brasília (UnB) e consultor Paulo Kramer.
Na avaliação de Kramer, a inércia do governo Agnelo possibilita a Roriz trafegar sem grandes solavancos na periferia de Brasília, principalmente nas cidades que ele criou ao longo de seus governos. De fato, quando Roriz foi afastado da disputa em 2010, ele também divulgou uma carta dizendo: “Os elitistas chegam ao absurdo de dizerem que enchi Brasília de favelas, quando, na verdade, fiz aqui reforma urbana, erradicando favelas e dando dignidade, endereço e cidadania a centenas de milhares de famílias. De toda a imensidão de obra que construí, algumas gigantescas como a Ponte JK, o metrô e a Usina Hidrelétrica de Corumbá, a reforma urbana é a que mais me gratifica e envaidece”. Naquela ocasião Roriz já havia percebido que seria difícil seu retorno à vida pública e por isso — contrariando até o fiel escudeiro delegado Laerte Bessa —, permitindo que a filha Jaqueline Roriz fosse candidata a deputada federal, tirando de Bessa votos preciosos para se reeleger.
O carisma de Roriz é parecido com o de Sílvio Santos: tem imitadores do estilo, mas não “cola” em ninguém. “Desta vez é diferente. Ele está sendo expurgado do processo político sem nenhuma condenação e vai passar a imagem de vítima beneficiando as filhas com o voto de protesto. Até mesmo Ro­gério Rosso, caso seja candidato e construa uma aliança com a família, pode herdar este espólio de votos”, avalia um parente de Roriz. Tem lógica nesta observação se considerarmos que Liliane Roriz (PSD) é a mais carismática da família e tem mostrado habilidade nas negociações políticas. Sozinha, não tem chance de subir ao pódio, mas com aliados como Rogério Rosso, Eliana Pedrosa e outros partidos, tem chances de construir um futuro promissor.
Mesmo com esta derrota, Roriz deixa claro: “Deus me dará saúde e forças para continuar lutando pelos brasilienses nas próximas eleições, mesmo sem poder disputá-la. Mas estarei apoiando alguém que comungue com minhas ideias, que seja do nosso grupo político, respeite e governe para o povo, E que será vitorioso”.
Todos concordam num ponto: Roriz vai dedicar todo o seu es­forço para construir esta via alternativa, formando um grupo realmente forte para a disputa de 2014. “É uma questão pessoal. Ro­­­­riz não quer entrar para a His­tória sendo desconstruído pelo PT. Ele tomou esta decisão e começa a trabalhar a partir da e­leição municipal no Entorno do DF e, a partir do próximo ano, nas cidades satélites do DF”, ga­ran­­te um membro do clã rorizista.
Roriz deve procurar lideranças que foram arrastadas no escândalo da Caixa de Pandora e montar a estratégia de 2014. Nem mesmo o ex-governador José Roberto Ar­ruda está sendo descartado de futuras conversas.

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