Alana Rizzo, Eugênia Lopes e Fábio
Fabrini, de O Estado de S.Paulo
A base do governo no Congresso pretende usar o
depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques para convocar o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a prestar esclarecimentos à CPI
do Cachoeira sobre sua atuação no inquérito que investiga o envolvimento de
políticos com a quadrilha do bicheiro.
Líderes do PT e de partidos aliados vão discutir
uma possível oitiva de Gurgel, sob o argumento de que na terça-feira, 8, o
delegado deixou claro que há indícios de prevaricação por parte do procurador ao
tratar informações da Operação Vegas que incriminavam o senador Demóstenes
Torres (DEM-GO) e os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior
(PP-GO).
Gurgel recebeu o caso em 2009, mas não pediu
autorização para investigá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF), tampouco
devolveu peças da operação à primeira instância, o que a manteve congelada até
este ano, quando foi desencadeada a Operação Monte Carlo.
De acordo com o relato de parlamentares presentes
à sessão, Marques disse que a Vegas ficou inconclusa. O inquérito foi remetido
ao procurador em 15 de setembro de 2009. A subprocuradora da República Cláudia
Sampaio foi designada para analisá-lo e, no mês seguinte, informou ao delegado
não ter encontrado elementos jurídicos que fundamentassem um pedido de
investigação ao Supremo "A partir disso, não podia fazer mais nada", teria dito
o policial à CPI.
Um dos argumentos do governo pela convocação do
procurador é que, embora não tenha encontrado indícios em 2009, Gurgel usou este
ano, na denúncia apresentada ao STF, após a Operação Monte Carlo, várias peças
do inquérito da Vegas.
"A subprocuradora, em nome do procurador, disse
que não tinha elementos que indicassem crime e (o caso) ficou parado até hoje.
Foi preciso uma nova operação para a sociedade conhecer essa organização
criminosa. Ele(Gurgel) precisa explicar por que não fez nada. Se não tem crime,
ele tinha que ter arquivado ou pedido à Justiça novas diligências", cobrou o
deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
A convocação será discutida nos próximos dias por
líderes governistas. Alguns já tratam o depoimento de Gurgel como "imperativa".
O senador Fernando Collor (PTB-AL) apresentou requerimento pelo comparecimento.
A investida da base aliada desgasta o procurador no ano em que o processo do
mensalão será julgado, como informou o presidente do Supremo, ministro Ayres
Brito.
Em minoria, a oposição tenta uma saída
alternativa: convocar Cláudia Sampaio e solicitar esclarecimentos a Gurgel por
escrito. É que, como autor de uma possível denúncia contra políticos envolvidos
com Cachoeira no futuro, o procurador não poderia testemunhar à CPI por vedação
legal.
Segundo relatos de senadores e deputados, os
áudios confirmam o braço político da organização criminosa comandada por
Cachoeira. As informações levadas por Marques deixaram claro, conforme
integrantes da CPI, que Demóstenes não era um mero beneficiário de favores e
dinheiro da quadrilha, mas integrante ativo da organização do contraventor. O
senador teria colocado o mandato a disposição da máfia dos
Caça-níqueis. Segundo o
delegado, o inquérito da Vegas revela a intensa troca de informações entre
Leréia e Cachoeira. Um dos áudios indica que o tucano teria recebido R$ 100 mil
do contraventor. Além de recorrer ao bicheiro para o financiamento de uma
pesquisa eleitoral, como revelou o Estado, Sandes Júnior teria participado de
operação para fraudar licitações no município de Nerópolis, vizinho a Goiânia e
uma de suas bases
Eleitorais. O governo tentou
ainda blindar a Delta Construções, maior empreiteira do Programa de Aceleração
do Crescimento, mas a oposição saiu convicta da necessidade de convocar
ex-dirigentes da empresa. "Há indícios de que a atuação de Cachoeira era como
sócio da Delta. São relações que vêm desde 2006", disse um senador.
fonte: estaçãodanoticia
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