A falência política de Agnelo Queiroz e o Novo Caminho

domingo, 17 de junho de 2012

Governador do Distrito federal, Agnelo Queiroz: uma miniatura política acuada
A ideologia que predominava no PT num passado recente, do “quanto pior, melhor para os objetivos de conquistar o poder”, se volta com força contra as cabeças pensantes da estrela vermelha, principalmente no Distrito Federal, onde a legenda perde força junto à opinião pública. O exemplo dessa descrença ficou evidente nas dez horas de depoimento de Agnelo Queiroz à CPMI do Cachoeira, embora tenha havido comemoração por parte dos petistas com assento na mesa do Palácio do Buriti, que o consideraram uma bem urdida peça de defesa e resgate da credibilidade da gestão do governador. Isso a ponto de o deputado distrital e seu fiel escudeiro, Chico Vigilante, ocupar a tribuna do Legislativo para dizer que “Agnelo Queiroz selou sua reeleição em 2014”. Nenhum músculo da face dos poucos parlamentares que estavam em plenário se moveu, tamanho o disparate sobre um governante que, até agora, não conseguiu chegar a 15% de aprovação. Imagine a intenção de voto!Na CPMI do Congresso, Agnelo saiu comemorando, ovacionado pelos apoiadores e petistas que temiam ver “o homem amarelar” ou ser acometido de gagueira quando acossado por adversários. Esse desafio ele conseguiu, após exaustivo cursinho com assessores, incluindo a jornalista goiana e terapeuta Olga Curado, especialista em treinar pessoas para embates públicos.
Passado a euforia, vieram os questionamentos da opinião pública. Por exemplo: como uma casa no Setor de Mansões Del Bosco, onde o metro quadrado não sai por menos de R$ 5 mil, pode ser adquirida por R$ 400 mil? Ninguém no Distrito Federal acredita que esse foi um “negócio da China”. A casa de 459 m2, comprada do empresário da Saúde Import, Glauco Santos — com múltiplos interesses na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), da qual Agnelo era diretor um ano antes da efetivação do negócio —, suscita o imaginário de muita gente.
Outra decepção do brasiliense que está em toda discussão sobre a política local é a quebra do sigilo bancário e fiscal de Agnelo, anunciado como trunfo político sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo. Até as centenas de radares (os odiados pardais) sabem que o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STF) Asfor Rocha, autorizou em novembro do ano passado esmiuçar as contas de Agnelo de 2005 a 2010 por causa das denúncias de desvios de verbas quando era ministro dos Esportes. Portanto, em vez de limpar a barra, acabou gerando mais especulações sobre o futuro. Se em 2006 seu patrimônio somava R$ 224 mil e em 2010 atingiu a cifra de R$ 1,1 milhão, conforme declaração no TRE-DF, incluindo a casa de R$ 450 mil, três imóveis, três carros e mais de R$ 150 mil em contas bancárias, Agnelo precisa ensinar aos incrédulos habitantes do DF como alcançar um patrimônio desses em pouco tempo.
Na edição de quinta-feira, 14, o jornal “O Estado de S. Paulo” trouxe uma matéria que deixa o governador do DF nas cordas do ringue: “Agnelo tampouco provou à Justiça como comprou o imóvel. Ele processou jornalistas da revista “Época” que, em 2010, fizeram reportagem sobre o imóvel. Na Justiça do DF, ele apresentou comprovantes de que teria entregue declarações de Imposto de Renda e acabou condenado. “Esses extratos não demonstram sequer que a aquisição da casa foi incluída nas declarações de IR”, disse a juíza Priscila Faria da Silva.
“Isso será reparado, absolutamente”, disse Agnelo à CPI, defendendo que ele e a mulher, ambos médicos, tinham lastro para comprar o imóvel. “Já fiz uma auditoria nas minhas contas, além de apresentar meu ‘nada consta’. Quando meu sigilo chegar, vocês vão ver que não há nada.”
O niilismo adotado por Agnelo e seus áulicos não leva em conta os sonhos de milhares de brasilienses que acreditaram numa nova prática política a partir da eleição de 2010. A velha prática da esquerda, de achar que o poder só pode ser exercido pelos ungidos do socialismo, ainda não foi abolida por uma boa parcela dos petistas aboletados no poder, principalmente no Distrito Federal, onde amargaram várias derrotas eleitorais, permanecendo à margem do Palácio do Buriti. Enrolado nesta teia reticular de evolução patrimonial e vendo seus índices de popularidade e aprovação de governo estacionados abaixo de 20 pontos, a euforia dos petistas aliados soa como um réquiem em 2014.
Pesquisas de avaliação feitas pelo GDF e partidos de oposição são coincidentes num ponto: hoje, Agnelo perderia a disputa eleitoral para Rogério Rosso (PSD), José Roberto Arruda (sem partido) e Eliana Pedrosa (PSD).
A cada dia, Agnelo torna-se uma miniatura política acuada dentro do slogan “Novo Caminho”, marca celebrada como “integração de governo e comunidade”. Nada disso acontece, a não ser a descrença e decepção que habitam corações e mentes dos brasilienses. Até mesmo categorias como a dos professores, a PM e a dos funcionários públicos já não creem numa retomada de dias melhores. As circunstâncias políticas que orbitam o GDF não animam quase ninguém a fazer prognósticos otimistas quanto ao futuro de Agnelo. “A mediocridade generalizada no governo e a falta de atrativos nas ações de políticas públicas, até agora sustentadas pelas obras de intervenção do governo de José Roberto Arruda, não entusiasma nem cartomante a predizer dias melhores. Nem as especulações que circularam na sexta-feira, 15, de que Agnelo faria — mais uma vez — mudanças na equipe animaram o reduzido número de torcedores do governador petista.
O desgastado coronel Rogério Leão, que provocou a CPI da Arapongagem na Câmara Legislativa, seria o primeiro da lista, seguida pelo Secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, comandante da Polícia Militar, coronel Suamy Santana e outros postos da admnistração. As conversas com a base de sustentação do governo já estão a todo vapor. Fala-se que está sendo construído um novo bloco na Câmara Legislativa para dar uma maioria segura a Agnelo, evitando sustos como tem acontecido. Com isso, enquadram o presidente da Casa, Cabo Patrício, e pavimentam o caminho para Arlete Sampaio ou um outro nome petista para substituir Patrício.
Sobre a substituição do coronel Leão, o jornalista Edson Sombra postou uma dura crítica a Agnelo, questionando por que ele não disse na quinta-feira, 14, “os nomes dos integrantes da organização criminosa que, segundo ele, tentam ‘derrubá-lo’. (…) O governador realmente teve a privacidade do seu sigilo invadida: seu chefe da Casa Militar, tenente coronel Rogerio Leão, que, em entrevista a revista ‘Veja’, chegou a assumir ter ordenado a quebra de sigilos de autoridades e jornalistas, também foi alvo do submundo da arapongagem”.
Na Câmara Legislativa, a deputada Celina Leão (PSD) luta solitariamente para dar andamento à CPI da Arapongagem, mas a máquina do GDF não permite quórum nem amarrando deputados nas cadeiras. “Agnelo controla a maioria do Legislativo, mas não consegue controlar a indiferença do povo”, relatou uma professora com anos de carreira e que sempre votou em Agnelo. Trata-se de um microuniverso; no entanto, reflete a falência política de um homem que tinha tudo para ser realmente o Novo Caminho do Distrito Federal.
Fonte do Cafezinho 

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