A leishmaniose, doença causada por um  protozoário e transmitida por picada de mosquito,  é motivo de preocupação no Distrito Federal. No primeiro semestre de 2012, 585 animais foram diagnosticados com a doença – número superior ao de 2011, quando foram 460 casos. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES), nos seis primeiros meses deste ano, 20 pessoas foram confirmadas com a doença do tipo Visceral e 19 casos confirmados com Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA). Em todo o ano passado, foram 19 e 47 casos, respectivamente.
As regiões com mais casos confirmados de Leishmaniose Visceral são  Sobradinho e São Sebastião, com dois casos cada uma. Em relação à LTA, as cidades mais afetadas são Ceilândia, com quatro casos, e Taguatinga, com três registros. Também foram identificadas duas mortes, no entanto, os pacientes vieram de outros estados.
A leishmaniose é uma doença transmitida por um inseto conhecido popularmente por mosquito palha, que, quando pica o cão doente, transmite a doença para o homem. O cão sofre com emagrecimento, crescimento exagerado das unhas, feridas nas orelhas, patas e focinho, perda de pelo no corpo e ao redor dos olhos. No homem, causa febre, falta de apetite, emagrecimento, palidez, aumento do baço e do fígado.
O desafio da erradicação
Segundo a Gerência de Controle de Reservatórios e Zoonoses da Secretaria de Saúde do DF, quando a doença se estabelece em uma região, não é possível erradicar a contaminação. No Distrito Federal, a leishmaniose está instalada em locais como Lago Norte, Lago Sul, Sobradinho e Jardim Botânico.
Para o homem, há tratamento para a doença, mas para os animais, a Secretaria de Saúde defende que não existe remédio capaz de curar. Podem eliminar os sintomas clínicos, mas os cães continuam com o protozoário infectante. O tratamento da doença em cães não é permitido pelos órgãos públicos e a determinação é pela eutanásia.
No entanto, há quem defenda o tratamento dos animais com leishmaniose. A ONG PróAnima promoveu, no último fim de semana, o 1º Seminário Leishmaniose Visceral Canina, para debater  um combate ético e eficaz da doença. O evento contou com médicos-veterinários, sanitaristas e advogados.
Direito ao tratamento
Um dos participantes do 1º Seminário Leishmaniose Visceral Canina, organizado pela ONG Pró-Anima, o médico-veterinário Vítor Ribeiro defende que os animais tenham direito ao tratamento. Segundo ele, atualmente, quem opta por isso, é tratado como criminoso. “Os animais não são objeto de troca, envolve sentimento. Tudo que vive, quer viver. O Ministério da Saúde diz que não há eficácia no tratamento, mas nossos trabalhos em campo nos mostram o contrário”, ressalta.
Segundo ele, o tratamento ajuda a ter cura clínica e diminui a transmissão. Ele explica ainda que existe a proibição do tratamento, pois os diagnósticos têm sido feita de forma errônea, com apenas um exame de sorologia, o que não é suficiente. “É vergonhoso um país matar tantos bichos apenas pela suspeita de leishmaniose. Quando um exame dá positivo, é sinal de que mais exames devem ser feitos, e não de levar o animais para eutanásia”, observa.
Ele defende o direito ao tratamento, mas afirma que não se pode esquecer a prevenção: “Recomenda-se colocar colar inseticida, além de produtos de aplicação tópica. Ainda, o ambiente deve estar sempre limpo e deve-se usar plantas repelentes, como a citronela. Vale lembrar que não se deve fazer passeios crepusculares e noturnos (com os cães), pois são os horários de mais atividades dos flebotomíneos”.
Segundo ele, a informação governamental de que um animal tratado ainda pode ser um transmissor é polêmica, pois estudos demonstram que, na medida em que os cães são tratados, a possibilidade de infectar o inseto diminui. No entanto, é importante que todos os cães, infectados ou não, usem repelentes para evitar as picadas de mosquitos. “Um cão em tratamento, seguindo as orientações veterinárias para que não seja picado, não é ameaça à saúde pública”, afirma.
Questionamento
A ONG PróAnima afirma que inúmeros estudos e informes técnicos, inclusive da Organização Mundial de Saúde (OMS), questionam o fracasso do modelo  de combate atual. Informa que não existem evidências de que o abate de cães diminui a transmissão.
A ONG defende também que a matança dos cães não é a única forma de combater a leishmaniose. Segundo a organização, é necessário que sejam realizados trabalhos em diversas vertentes, como o planejamento urbano, manejo de lixo, combate ao mosquito, controle populacional de cães por esterilização e a promoção da saúde e nutrição da população mais excluída. “A leishmaniose é doença da classe mais baixa. Se melhorasse as condições da população, o controle da doença estaria assegurado”, opina Ribeiro.
Alternativa ao sacrifício
Para a diretora da Pró-Anima, Simone Lima, o 1º Seminário Leishmaniose Visceral Canina promoveu debates para desmistificar algumas informações que são passadas para a população e até mesmo para médicos veterinários. Ela defende que existe tratamento para o animal, sem precisar optar pelo sacrifício.
“Quando se retira um animal do convívio humano, torna-se um episódio traumatizante, pois ninguém quer ver seu bichinho sendo sacrificado”, afirma.
Segundo ela, existe um inquérito epidemiológico que dá uma noção da doença na cidade. No entanto, ela diz que o documento é preparado de forma incorreta, pois é  coletado apenas o sangue dos animais. “É necessário uma série de exames para se identificar a leishmaniose. Muitos cachorros são mortos sem essa certeza. É necessário trabalhar com prevenção, educação, investigação pelo médico-veterinário e oferecer direito ao tratamento”, diz.
Como membros da família
Com medo de que o problema atinja sua cadela, a costureira Maria Júlia Nascimento afirma que toma todo o cuidado com Zaíra, a poodle de um ano de dois meses. Segundo ela,  que sempre teve um carinho especial pelos animais, a cadela é tratada como da família. “Ela é vacinada, toma banho todos os fins de semana, dorme na cama com a gente e é tratada como uma criança. Cuido com todo amor e carinho. E, por isso, não vejo o sacrifício como uma opção, pois a gente se apega e ninguém quer perder um ente querido”, comenta.
A mesma opinião tem a babá Valmira dos Santos, dona de Laila, de apenas seis meses. A cadela é uma mistura de poodle com vira-lata e recebe toda a mordomia dos moradores da casa. “Aqui, todo mundo cuida muito bem dela, principalmente eu, que tenho um carinho muito especial. Quando ela ficou doente, quase endoidei. Por isso, não vejo a possibilidade de sacrificá-la. Já ouvi falar que existe tratamento e eu tentaria de tudo para não deixá-la morrer”, desabafa a babá.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.b