Artigo – JOÃOSINHO, SEMPRE!
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Ricardo Marques
“Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo”
Joãosinho Trinta
Esta era a frase mais marcante do inesquecível Joãosinho Trinta, quase um bordão sintomático. Fará sempre lembrar o gênio do ilusionismo, das grandes surpresas, da inovação, que marcou seu tempo e a eternidade.
Joãosinho Trinta escrevia seu nome com “S” porque uma numeróloga definiu essa postura como primordial para seu sucesso. Sim, Joaosinho com “S”, talvez de Sonhador, de Sinhô, de Salvador, Servidor, de Sacana, de Samba.
Trinta é um nome de batismo. Sua mãe profetizou que, um dia, ele entenderia o tamanho do número que era um nome.
João Jorge, do guerreiro, símbolo, padroeiro da Beija-Flor, Jorge do Rio de Janeiro. Destemido, matou muitos dragões. Queria viver para sempre: conseguiu.
Tinha muitas historias. “Infeliz quem não tem!”, bradava.
Viveu intensamente. Na nostalgia, identificava suas glórias. Quantas glórias, conquistas que pareciam intermináveis!
Seu legado: a esperança, a busca permanente da expectativa, do novo, do surpreendente.
Com o sorriso maroto aprendeu a debochar e a satirizar o ridículo. Vaidoso, claro, tinha motivos reais: era Cidadão do Mundo.
Mundo que amava. Como amigo do rei, durante mais de uma década, em Marrocos, fez a alegria dos réveillons. Amigo da princesa e do herdeiro inglês, a quem fez sambar numa das visitas ao Rio de Janeiro.
Gostava dos números e de sua mística. Em 2006, fui visitá-lo e o encontrei debilitado. Desde então, o acolhi em minha casa, no Lago Norte. Ficamos amigos. Esses foram seus últimos quatro anos, vivendo em Brasília. Proclamava que tudo terminava em 1,3 ou 7. Terminou, façam as contas!
Em determinado instante, expressou a vontade de voltar a São Luís, onde nasceu, para resgatar uma divida pessoal, familiar, de gratidão e de amor.
Mas foi no Rio de Janeiro onde passou a maior parte de sua rica trajetória, como ser humano eclético e erudito. Estudou, dançou no Municipal e aposentou-se como bailarino do maior palco brasileiro.
No auge da sua vitalidade, subiu o morro e sagrou-se campeão. Foi para Nilópolis, para a Beija-Flor e de lá voou até o alto, o mais alto…
Presidentes, reis, rainhas, líderes religiosos e espirituais se renderam a sua genialidade.
Mudou o enredo e a festa. Reinventou, alterou o debate e a discussão. Na Globo, com Boni, estreou com fé e brilhantismo, roteirizando o mais belo espetáculo do mundo.
Em Brasília, desenhou uma bela árvore de Natal na Esplanada. Acreditou nos 50 anos da Capital Federal, sonhou com projetos sociais, apostou no carnaval candango, defendeu o sambódromo no Eixo Monumental e conviveu com a política. Decepcionou-se, mas nunca desistiu!
Recebeu todas as homenagens, construiu um futuro ainda desconhecido por nós, deixou projetos e alegorias. Nos últimos tempos, estava sentimental, frágil, saúde debilitada, mas apaixonado…
Queria sempre algo impossível para nós mortais. Ele, imortal, é simplesmente Joãosinho Trinta.
*Ricardo Marques, ex-secretário de Cultura de Brasília e
Presidente do Instituto Joãosinho Trinta
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